Estudo revela que um cochilo após o almoço contribui para a solução de problemas lógicos. O resultado estaria relacionado com estágios do sono.
Por: Franciele Petry Schramm
Publicado em 09/05/2014 | Atualizado em 09/05/2014
Experimento mostra que sesta pode contribuir para a solução de problemas lógicos. Outros benefícios cognitivos do sono, como consolidação de memórias, já eram conhecidos pelos pesquisadores. (foto: Ignacioleo/ Sxc.hu)
Ao longo dos últimos anos, pesquisadores vêm reforçando a importância do sono para a consolidação de memórias. Agora um trabalho realizado no Laboratório de Cronobiologia Humana (Labcrono) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostrou que a sesta – cochilo tirado ao longo do dia, em geral após o almoço – pode também contribuir para a solução de problemas lógicos.
A conclusão foi obtida após estudo coordenado pelo neurocientista Fernando Mazzilli Louzada, em que 29 voluntárias – universitárias com idades entre 18 e 35 anos – foram expostas a um jogo de desafios. As que dormiram durante um intervalo de tempo ao longo do dia alcançaram um índice de sucesso duas vezes maior que o daquelas que não dormiram.
No experimento, as participantes foram convidadas a jogar um jogo eletrônico de labirinto, composto de vários níveis e desafios
Para chegar a esse resultado, as participantes foram convidadas a jogar oSpeedy Eggbert Mania – jogo eletrônico de labirinto, composto de vários níveis e desafios – até não conseguirem mudar de fase após 10 minutos de tentativas.
Nesse momento, a sessão de treinos foi suspensa, e uma breve refeição foi servida. As voluntárias foram então separadas em dois grupos (um com 14 e outro com 15 pessoas) e tiveram um intervalo de 90 minutos antes de fazer uma nova tentativa com o jogo.
Durante esse tempo, o grupo de 14 integrantes pôde dormir; o outro permaneceu em vigília. De volta ao jogo, 85,7% das participantes que tiraram um cochilo conseguiram completar o jogo a partir do ponto em que haviam parado. Já no grupo das jovens que ficaram acordadas, apenas 46,6% puderam completá-lo.
O biólogo Felipe Beijamini, um dos autores do estudo, conta que só duas jovens que haviam cochilado não resolveram o desafio. “Isso pode ter ocorrido porque elas não chegaram a atingir o estágio de ondas lentas cerebrais, um estado de sono mais profundo”, explica.
Ciclos de sono
Uma noite de sono é composta por ciclos de atividades cerebrais de diferentes padrões que duram em média 90 minutos e se repetem no decorrer na noite. O tempo de cochilo permitido às participantes do estudo possibilitou que elas passassem por m ciclo completo.
O estágio de ondas lentas – que está associado à solução do desafio – faz parte de um tipo fisiológico de sono no qual há sincronização dos neurônios corticais, ou seja, quando esses neurônios passam a disparar em conjunto.
O estágio de ondas lentas – que está associado à solução do desafio – faz parte de um tipo fisiológico de sono no qual há sincronização dos neurônios corticais
Segundo Beijamini – autor da tese ‘Sesta e desempenho cognitivo’, defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da UFPR –, é durante essa etapa que ocorre a transferência de informações do hipocampo (região do cérebro que abriga memórias de curta duração) para o córtex (que abriga memórias de longa duração).
Pelo fato de as participantes terem sido expostas ao desafio antes da sesta, o sono permitiu associar a experiência recente com redes de memória desenvolvidas anteriormente. Com isso, a solução do jogo se tornou mais fácil.
O estágio do sono das participantes foi monitorado por meio da polissonografia, exame que mostra uma série de variáveis fisiológicas durante o sono, como a atividade das ondas celebrais. O mesmo exame foi feito nas voluntárias que permaneceram em vigília, para que os pesquisadores se certificassem de que elas ficaram acordadas.
Resultados animadores
Beijamini afirma que os resultados do estudo podem ser relacionados exclusivamente com o sono, pois outras possíveis variáveis, como alimentação, foram controladas. A experiência das participantes com jogos eletrônicos também foi levada em conta.
As voluntárias que declararam que tinham maior contato com esse tipo de atividade foram distribuídas de igual forma entre os dois grupos. “Mesmo essas não foram capazes de resolver o desafio na primeira tentativa”, aponta o biólogo.
Para garantir a confiabilidade dos resultados, as jovens foram orientadas a não consumir bebidas e alimentos com cafeína no dia do experimento. O tempo de sono delas na noite anterior também foi levado em conta nas análises.
Beijamini chama a atenção para a particularidade dos resultados encontrados. “Eles se referem a determinada população, faixa etária e sexo.” Para atribuir o benefício da sesta para todos, outros estudos devem ser realizados em públicos diferentes.
Segundo o biólogo, os resultados indicam que o sono tem outras funções, além de seu papel na consolidação de memórias. Na sua opinião, isso mostra que provavelmente a atividade apresente vantagens que a garantiram no processo evolutivo humano. “O sono ajuda o indivíduo a enfrentar problemas no dia a dia, identificando soluções lógicas para eles.”
Franciele Petry Schramm
Especial para a CH On-line/ PR
Especial para a CH On-line/ PR
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