A DESPREZADA MANDIOCA COMEÇARÁ A SER REVALORIZADA NO BRASIL?
Demanda maior que a oferta da mandioca faz com que agricultor ganhe mais vendendo raiz que produzindo farinha: estaria começando uma nova era para este alimento dos nossos índios?
O site brasileiro de temas socioambientais EcoDebate destaca hoje um estudo dos pesquisadores Raimundo Nonato Brabo Alves e Moisés de Sousa Modesto Júnior, ambos engenheiros agrônomos e ligados à Embrapa, cada um com uma especiliade, os dois com observações muito oportunas sobre a Mandioca, nome pelo qual é conhecida a espécie comestível mais largamente difundida do gênero Manihot (raízes comestíveis), uma tradição nativa na alimentação também dos índios brasileiros. "Talvez, por este detalhe e por ser entendida apenas somente como alimento de pobres, a Mandioca venha sendo historicamente e culturalmente desprezada no Brasil, mas agora diante do que escrevem estes dois cientistas especializados a situação comece a mudar, a bem da saúde e também da economia sustentável no país", comenta por aqui no blog da ecologia e da cidadania Folha Verde News, o repórter e ecologista Antônio de Pádua Padinha, nosso editor, que hoje abre este webespaço a informações do texto da dupla Raimundo Alves e Moisés Modesto. Confiram que vale.
"O Estado do Pará lidera o ranking nacional de produção de raiz de mandioca há 21 anos (1992 a 2012) com uma área colhida de 301.364 hectares e produção de 4.808.743 toneladas de raiz em 2012, com participação de 20,54 % da produção nacional (IBGE, 2013). A forte demanda por mandioca no estado do Pará fez com que a tonelada de raiz fosse comercializada a R$ 750,00, no mês de março de 2013, no município de Castanhal e vem provocando a elevação vertiginosa e atípica dos preços da farinha, com o saco de 60 kg sendo comercializado nas farinheiras ao preço de R$ 250,00. A farinha é um alimento tradicional na dieta paraense e a elevação no preço repercute de imediato na cesta básica. A farinha de mandioca foi o produto que mais impactou a cesta básica do brasileiro em 2012. Nos últimos 12 meses (março 2012 a março de 2013) a farinha aumentou no Pará de R$ 3,09 para R$ 7,41, um aumento de 139,81% (DIEESE/PA), enquanto a inflação para o mesmo período ficou em 7,22% (INPC/IBGE)
A situação inusitada dos preços dos produtos derivados da mandioca no mercado local resultou em condições de comercialização de alta rentabilidade para os agricultores que permaneceram com o cultivo da mandioca e dispõem de estoque do produto no campo. Vender raiz de mandioca tem sido mais lucrativo que produzir farinha.Este estudo foi feito em uma farinheira semi-artesanal de um agricultor que cultiva a mandioca em sistema semi-mecanizado com área média de 25 hectares anuais, com preparo de solo no sistema de aração e gradagem com reposição de fertilidade com esterco de aves, resíduos de cultura e fertilizante químico. Planta a mandioca com seleção de cultivares, preparo de manivas-semente e com definição de espaçamento entre plantas. Faz o controle de invasoras com até duas aplicações de herbicidas, complementado com uma a duas capinas manuais e colhe a mandioca conforme a necessidade de processamento, após os 12 meses, obtendo produtividade média de raiz na ordem de 42,7 t/ha. Contrata toda a mão-de-obra composta por oito descascadores, um lavador, um prensador e dois torradores, para o processamento médio de 280 sacos de farinha por mês. Na Tabela abaixo, são apresentados os indicadores de rentabilidade da farinheira tomando-se por base um hectare de mandioca com produtividade de 42,70 t/ha, rendimento de farinha de 25% em relação à produtividade e preço de R$ 750,00 para tonelada de raiz e R$ 250,00 para o saco de 60 kg de farinha.
Indicadores de rentabilidade de um hectare de mandioca para venda de raiz e para venda de farinha, em Castanhal, PA, março de 2013
Fonte: Dados da pesquisa
A receita bruta foi maior com a comercialização da farinha (R$ 44.250,00) que com a venda de raiz (R$ 32.025,00), porém a margem bruta se inverte sendo maior para a venda de raízes (R$26.819,25) que para a venda de farinha (R$ 7.982,52), em função do alto custo operacional (R$ 36.267,48) que vai desde a colheita até a produção de farinha, atividade altamente absorvedora de mão-de-obra. O torrador da farinha que é considerada mão-de-obra especializada ganha uma diária de R$150,00 para produção de 10 sacos de farinha, em março de 2013. Verifica-se na Tabela acima que vender diretamente as raízes tem menor custo operacional de (R$ 5.205,75). Ao vender raízes o agricultor tem relação benefício/custo de 6,15 enquanto que vendendo farinha tem apenas 1,22. Isso significa dizer que para cada R$ 1,00 investido na produção, retorna R$ 6,15 na venda de raízes, enquanto que o retorno na venda de farinha é de apenas R$ 1,22. O negócio da venda de raízes é mais seguro (83,74%) que a venda de farinha (18,04%), o que depende apenas de um mercado com demanda aquecida como é o caso do mercado de fécula.
De acordo com o Cepea-Esalq/USP (2013) a produção nacional de fécula em 2012 foi de 519,67 mil toneladas e a região Sul de destacou como principal destino das vendas das fecularias, absorvendo 36,9 % do total, seguido pelo Sudeste (36,2 % do total), Centro-Oeste (13,4%), Nordeste (11,4 %) e Norte com apenas 2,1 %. O Pará produziu apenas 3.000 toneladas de fécula, o que corresponde a 0,6 % da produção nacional, mesmo tendo uma capacidade instalada para processamento de 200 toneladas/dia. O setor atacadista seguiu como principal comprador de fécula de mandioca em 2012 com 25 % das vendas totais, seguido pelo setor de massa, biscoito e panificação (18,6 %), papel e papelão (15,8 %), frigoríficos (13,2 %), varejistas (7,6 %), gerais (5,6 %), outras fecularias (5,2 %), indústria química (4,7 %), setor têxtil (3,7 %) e exportação com apenas 0,6 %. Não podemos esquecer que a farinha como o produto final, mesmo temporariamente com menor rentabilidade, em última instância, estimula a demanda, gerando emprego e renda no seu processamento. Esta realidade pode orientar dois novos segmentos de mercado no Pará: agricultores que cuidam exclusivamente do plantio e empreendedores que se dediquem exclusivamente ao processamento de farinha".
Referências
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Banco de dados SIDRA. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/prevsaf/default.asp . Acesso em 24 de jun./2013.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. Produção de fécula fica estagnada e margem diminui em 2012. São Paulo, SP: Eslq/USP. 2013. Disponível em: http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/Cepea_CensoFecula2013.pdf. Acesso em: 06 de Ago./2013.
Fontes: www.ecodebate.com.br
O site brasileiro de temas socioambientais EcoDebate destaca hoje um estudo dos pesquisadores Raimundo Nonato Brabo Alves e Moisés de Sousa Modesto Júnior, ambos engenheiros agrônomos e ligados à Embrapa, cada um com uma especiliade, os dois com observações muito oportunas sobre a Mandioca, nome pelo qual é conhecida a espécie comestível mais largamente difundida do gênero Manihot (raízes comestíveis), uma tradição nativa na alimentação também dos índios brasileiros. "Talvez, por este detalhe e por ser entendida apenas somente como alimento de pobres, a Mandioca venha sendo historicamente e culturalmente desprezada no Brasil, mas agora diante do que escrevem estes dois cientistas especializados a situação comece a mudar, a bem da saúde e também da economia sustentável no país", comenta por aqui no blog da ecologia e da cidadania Folha Verde News, o repórter e ecologista Antônio de Pádua Padinha, nosso editor, que hoje abre este webespaço a informações do texto da dupla Raimundo Alves e Moisés Modesto. Confiram que vale.
Junto com a mandioca se revalorizará a cultura nativa do Brasil? |
"O Estado do Pará lidera o ranking nacional de produção de raiz de mandioca há 21 anos (1992 a 2012) com uma área colhida de 301.364 hectares e produção de 4.808.743 toneladas de raiz em 2012, com participação de 20,54 % da produção nacional (IBGE, 2013). A forte demanda por mandioca no estado do Pará fez com que a tonelada de raiz fosse comercializada a R$ 750,00, no mês de março de 2013, no município de Castanhal e vem provocando a elevação vertiginosa e atípica dos preços da farinha, com o saco de 60 kg sendo comercializado nas farinheiras ao preço de R$ 250,00. A farinha é um alimento tradicional na dieta paraense e a elevação no preço repercute de imediato na cesta básica. A farinha de mandioca foi o produto que mais impactou a cesta básica do brasileiro em 2012. Nos últimos 12 meses (março 2012 a março de 2013) a farinha aumentou no Pará de R$ 3,09 para R$ 7,41, um aumento de 139,81% (DIEESE/PA), enquanto a inflação para o mesmo período ficou em 7,22% (INPC/IBGE)
A situação inusitada dos preços dos produtos derivados da mandioca no mercado local resultou em condições de comercialização de alta rentabilidade para os agricultores que permaneceram com o cultivo da mandioca e dispõem de estoque do produto no campo. Vender raiz de mandioca tem sido mais lucrativo que produzir farinha.Este estudo foi feito em uma farinheira semi-artesanal de um agricultor que cultiva a mandioca em sistema semi-mecanizado com área média de 25 hectares anuais, com preparo de solo no sistema de aração e gradagem com reposição de fertilidade com esterco de aves, resíduos de cultura e fertilizante químico. Planta a mandioca com seleção de cultivares, preparo de manivas-semente e com definição de espaçamento entre plantas. Faz o controle de invasoras com até duas aplicações de herbicidas, complementado com uma a duas capinas manuais e colhe a mandioca conforme a necessidade de processamento, após os 12 meses, obtendo produtividade média de raiz na ordem de 42,7 t/ha. Contrata toda a mão-de-obra composta por oito descascadores, um lavador, um prensador e dois torradores, para o processamento médio de 280 sacos de farinha por mês. Na Tabela abaixo, são apresentados os indicadores de rentabilidade da farinheira tomando-se por base um hectare de mandioca com produtividade de 42,70 t/ha, rendimento de farinha de 25% em relação à produtividade e preço de R$ 750,00 para tonelada de raiz e R$ 250,00 para o saco de 60 kg de farinha.
Indicadores de rentabilidade de um hectare de mandioca para venda de raiz e para venda de farinha, em Castanhal, PA, março de 2013
Indicadores | Venda de raiz | Venda de farinha |
Receita bruta (R$) | 32.025,00 | 44.250,00 |
Custo operacional total (R$) | 5.205,75 | 36.267,48 |
Margem bruta (R$) | 26.819,25 | 7.982,52 |
Relação benefício/custo (B/C) | 6,15 | 1,22 |
Custo unitário (R$/) | 121,91 | 129,53 |
Ponto de nivelamento | 6,9 | 145,1 |
Margem de segurança (%) | (83,74) | (18,04) |
A receita bruta foi maior com a comercialização da farinha (R$ 44.250,00) que com a venda de raiz (R$ 32.025,00), porém a margem bruta se inverte sendo maior para a venda de raízes (R$26.819,25) que para a venda de farinha (R$ 7.982,52), em função do alto custo operacional (R$ 36.267,48) que vai desde a colheita até a produção de farinha, atividade altamente absorvedora de mão-de-obra. O torrador da farinha que é considerada mão-de-obra especializada ganha uma diária de R$150,00 para produção de 10 sacos de farinha, em março de 2013. Verifica-se na Tabela acima que vender diretamente as raízes tem menor custo operacional de (R$ 5.205,75). Ao vender raízes o agricultor tem relação benefício/custo de 6,15 enquanto que vendendo farinha tem apenas 1,22. Isso significa dizer que para cada R$ 1,00 investido na produção, retorna R$ 6,15 na venda de raízes, enquanto que o retorno na venda de farinha é de apenas R$ 1,22. O negócio da venda de raízes é mais seguro (83,74%) que a venda de farinha (18,04%), o que depende apenas de um mercado com demanda aquecida como é o caso do mercado de fécula.
De acordo com o Cepea-Esalq/USP (2013) a produção nacional de fécula em 2012 foi de 519,67 mil toneladas e a região Sul de destacou como principal destino das vendas das fecularias, absorvendo 36,9 % do total, seguido pelo Sudeste (36,2 % do total), Centro-Oeste (13,4%), Nordeste (11,4 %) e Norte com apenas 2,1 %. O Pará produziu apenas 3.000 toneladas de fécula, o que corresponde a 0,6 % da produção nacional, mesmo tendo uma capacidade instalada para processamento de 200 toneladas/dia. O setor atacadista seguiu como principal comprador de fécula de mandioca em 2012 com 25 % das vendas totais, seguido pelo setor de massa, biscoito e panificação (18,6 %), papel e papelão (15,8 %), frigoríficos (13,2 %), varejistas (7,6 %), gerais (5,6 %), outras fecularias (5,2 %), indústria química (4,7 %), setor têxtil (3,7 %) e exportação com apenas 0,6 %. Não podemos esquecer que a farinha como o produto final, mesmo temporariamente com menor rentabilidade, em última instância, estimula a demanda, gerando emprego e renda no seu processamento. Esta realidade pode orientar dois novos segmentos de mercado no Pará: agricultores que cuidam exclusivamente do plantio e empreendedores que se dediquem exclusivamente ao processamento de farinha".
Referências
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Banco de dados SIDRA. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/prevsaf/default.asp . Acesso em 24 de jun./2013.
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. Produção de fécula fica estagnada e margem diminui em 2012. São Paulo, SP: Eslq/USP. 2013. Disponível em: http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/Cepea_CensoFecula2013.pdf. Acesso em: 06 de Ago./2013.
Esta realidade no Pará pode orientar uma revalorização da mandioca em todo o país? |
Fontes: www.ecodebate.com.br
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