domingo, 24 de agosto de 2014

* Acadêmicos lançam Comitê contra Criminalização dos Movimentos Sociais

Movimiento contesta eleição da reitora Anna Cintra.
Por meio da sustentação de uma história construída pela luta por liberdade e autonomia e contra o autoritarismo, e exercendo grande papel de liderança política entre os setores intelectuais do Brasil, marcadamente durante a ditadura civil e militar no país (1964-1985), a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) estaria passando, nos últimos anos, por forte crise ideológica, estreitando portas para o debate político e sua tradicional postura propositiva. Para discutir e se contrapor a esse caminho, a Associação dos Professores da PUC-SP (APROPUC) lança nesta quinta-feira, 21 de agosto, o Comitê Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais.
Durante o lançamento, Dia Nacional de Luta Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais, acontece um ato público, organizado por estudantes, professores e funcionários da universidade, que contará com a participação de sindicatos, movimentos, pastorais e grupos políticos. O Comitê pretende articular a luta contra a repressão e em defesa das liberdades democráticas dentro e fora da universidade.
Recentemente, a Reitoria da PUC-SP, abriu um processo administrativo contra três professores titulares do curso de Filosofia — Peter Pál Pelbart, Yolanda Glória Muñoz e Jonnefer Barbosa —, por haverem, supostamente, convidado o dramaturgo José Celso Martinez para uma apresentação artística durante greve realizada na universidade, em novembro de 2012. Nessa ocasião, o diretor de teatro, líder do Teatro Oficina e conhecido por protagonizar encenações orgiásticas e antropofágicas de forte caráter provocador aos padrões conservadores, realizou uma apresentação no local.
A performance protagonizada por Zé Celso, que é ex-aluno da PUC-SP, ocorreu no Pátio da Cruz, local simbólico do espaço acadêmico, utilizando um boneco de três metros de altura representando um padre. O sacerdote, que dizia "querer a PUC”, teve partes do corpo mutiladas até perder a cabeça. Foi representado morrendo e escutando a seguinte frase: "O senhor também não pode querer ter tudo. Muito menos a PUC”. A encenação reuniu cerca de 200 pessoas no local e gerou repercussão nacional.
A reitora da universidade, professora Anna Cintra, também foi citada pelo artista, que iniciou o espetáculo com frases provocativas como "Fora Anna Cintra!”. A comunidade acadêmica protestava contra a decisão da Igreja Católica, representada pelo cardeal arcebispo Dom Odilo Scherer, que escolheu Cintra para a Reitoria da universidade católica. Ela era a terceira colocada na eleição e sua escolha rompeu a tradição da PUC-SP de eleger o primeiro da lista consultada, provocando a greve estudantil, que considerava a escolha ilegítima e pedia que Cintra declinasse do cargo.
Apresentação de José Celso Martinez Corrêa no Pátio da PUC
Reação conquistou recuo da Reitoria
No último dia 14 de agosto, a Reitoria acabou recuando da investigação dos professores, após intensa reação e mobilização da comunidade acadêmica e demais setores intelectuais, arquivando o caso. Dois abaixo-assinados circularam pela Internet, reunindo adesões de intelectuais do Brasil e outras partes do mundo em solidariedade aos docentes. Um dos documentos foi encabeçado por estudantes da PUC-SP e outro por estudiosos e políticos, como o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, os filósofos Marilena Chauí e Antônio Negri, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, o músico José Miguel Wisnik e a psicanalista Maria Rita Khel.
O estudante da PUC-SP Murilo Magalhães, membro do Centro Acadêmico do curso e do Comitê, relembra que a universidade foi a primeira instituição de ensino brasileira a realizar eleições diretas para escolha de seu reitor, no início dos anos 1980, elegendo, por voto direto dos estudantes, a professora Nadir Kfouri, além de abrigar professores engajados nas lutas sociais, demitidos de universidades públicas durante o Regime Militar, como o pedagogo Paulo Freire.
"Hoje, não toma o mesmo rumo. Passa por uma crise financeira e promove a mercantilização do ensino. Mas existe aqui dentro um movimento estudantil e dos professores que resiste a esse projeto”, afirma Magalhães, em entrevista à Adital. "Nesse momento, é fundamental se unificar a todo o movimento social. O que a Reitoria faz na PUC é o mesmo que o Estado faz com os protestos de rua: responde com repressão”, avalia o estudante.
Presenças confirmadas
Estão confirmadas para o ato público as seguintes presenças: Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Advogados de São Paulo, Comissão Estadual da Verdade SP, Associação de Professores da PUC-SP, Centros Acadêmicos da PUC-SP, Diretório Central dos Estudantes da USP (DCE-Livre da USP), Pastoral Operária, Pastoral Fé, Política, Comissão de Paz e Justiça, e o grupo Advogados Ativistas. Também foram convidados intelectuais, artistas e outros movimentos. Além disso, o ato é aberto à participação da população.
SERVIÇO
Comitê contra a Criminalização dos Movimentos Sociais – Ato Público
Data: 21 de agosto, às 18h.
Local: PUC-SP. Rua Monte Alegre, nº 984, bairro Perdizes - São Paulo (SP).
Mais informações: www.apropucsp.org.br e www.facebook.com/cccdms.

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