sábado, 10 de maio de 2014

* Carros são furtados por hackers na Inglaterra

Metade dos carros furtados em Londres foram levados com o uso de dispositivos eletrônicos

Ladrão usam computador para furtar carros - Reprodução
Reprodução
Ladrão usam computador para furtar carros
Vidros quebrados, pés de cabras e ladrões encapuzados. Não é esse mais o cenários de furtos de carros, pelo menos na Inglaterra. De acordo com a Polícia Metropolitana de Londres, dos 21 mil carros furtados no ano passado na cidade, metade foi hackeada, ou seja, foram levados com o uso de tecnologia, sem abuso de força ou danos ao veículo.
Os números do relatório foram gerados depois que hackers "do bem" avisaram as autoridades sobre o uso de dispositivos modernos para levar os carros. Os modelos usados para mostrar o procedimento foram um Toyota Prius e um Ford Escape, que abriram com um apertar de botão.
Não é difícil achar na internet tutoriais que ensinam como manusear os aparelhos para o furto do carro, que custam apenas 12 libras (cerca de R$ 45) no mercado negro. Inclusive, o hacker que denunciou o caso usou o mesmo aparelho e um computador portátil para controlar remotamente os freios, acelerador, faróis e até mesmo explodir os air bags de um dos carros. O governo inglês disse que agora vai trabalhar em conjunto com as fabricantes do país para que se dificulte a invasão de hackers nos automóveis. 

* Mané Garrincha custa 61% mais do que arena nababesca da Arábia Saudita

O complexo esportivo saudita custou R$ 1,18 bilhão e tem estádio, ginásio, estádio de atletismo, quadras de tênis, campos de futebol, estacionamento para 45.000 carros e uma mesquita
Quando o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, discursou na inauguração do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, em maio do ano passado, a grandiosidade da obra inspirou-lhe uma comparação suntuosa. "Se Darcy Ribeiro dizia que o Brasil é uma nova Roma, só que mais democrática, pois lavada em sangue negro e índio, essa Roma acaba de ganhar seu Coliseu".

No entorno do Estádio Mané Garrincha, há um ginásio esportivo interditado em ruínas. 
A comparação do estádio brasileiro com a arena romana, cujas ruínas sobrevivem há quase 2.000 anos na Itália, talvez pareça exagerada hoje em dia, um ano após a inauguração do Mané Garrincha, já que o equipamento apresentou goteiras e vazamentos generalizados há cinco meses. A cobertura de mais de R$ 200 milhões não apresentou a resistência ao tempo que o Coliseu já provou ter.
O Governo do DF prometeu reformar as quadras e ginásios do complexo esportivo do qual faz parte o Mané Garrincha só depois da Copa. O R$ 1,9 bilhão da obra não eram suficientes para isso 

É possível, entretanto, que não tenha sido a estrutura da arena a musa inspiradora do ministro. Talvez tenha sido o custo do estádio o que tenha levado o Anfiteatro Flaviano à mente de Rebelo. Afinal, se a arena brasiliense, de acabamento espartano e cobertura efêmera, não remete à grandeza da arena da Cidade Eterna, seu preço poderia muito bem ser suficiente para erguer monumentos de até maior vulto.
 No último dia 1º, foi inaugurada, a 50 quilômetros da cidade de Juddah, na Arábia Saudita, a suntuosa Cidade do Esporte Rei Abdullah. Ela engloba um estádio de futebol de mesmo nome para 60.000 torcedores, um ginásio poliesportivo para 2.000 pessoas, um estádio de atletismo para 1.000 espectadores, uma mesquita para 500 fiéis, um estacionamento para 45.000 veículos, quadras de tênis e campos de futebol para treino e recreação. Além, é claro, de uma luxuosa suíte para receber o rei que empresta o nome ao estádio.
O custo total da obra, de acordo com as autoridades sauditas e com as construtoras que ergueram o complexo, foi de 384 milhões de euros, ou R$ 1,18 bilhão. O TC-DF (Tribunal de Contas do Distrito Federal) calcula que as obras do Mané Garrincha e de seu entorno, que ainda não estão completas, sairão por R$ 1,9 bilhão, valor 61% maior do que foi empregado no complexo saudita.
Apesar disso, a Cidade do Esporte Rei Abdullah em pouco lembra o estádio brasileiro que inspirou Rebelo. Dentro do estádio, 150 quadros e esculturas de artistas árabes ornamentam os ambientes, em nada remetendo às paredes sem pintura de cimento queimado do estádio Nacional.
Tampouco as vias de acesso perfeitamente pavimentadas e escoltadas por palmeiras da arena saudita fazem lembrar os campos de terra (e lama, quando chove) que servem de caminho de chegada ao público para o Mané Garrincha.
No entorno do Estádio Rei Abdullah, o ginásio poliesportivo climatizado, com suas 2.000 cadeiras numeradas e sistema de wi-fi para todos, ou as seis quadras de tênis e três campos de futebol, ou ainda a mesquita acarpetada capaz de receber 500 fiéis não podem servir de comparação com o Complexo Esportivo Ayrton Senna (veja fotos abaixo), dentro do qual está o Mané Garrincha.
No folder de propaganda que o Governo do Distrito Federal confeccionou e distribuiu em hoteis e aeroportos, o complexo, que possui quadras de vôlei e basquete, dois ginásios, complexo aquático, um autódromo e até um Cine Drive-in, está novo em folha.
Na realidade, porém, encontra-se praticamente todo em ruínas. Talvez daí tenha vindo a inspiração do ministro Rebelo. 

Buraco sem fundo

A torneira que pinga dinheiro público na construção do Mané Garrincha ainda não foi fechada. Em dezembro do ano passado, sete meses após inaugurado, o governo do DF liberou mais R$ 150 milhões para pagar a empreitada ao consórcio construtor.
"É importante destacar que o valor de R$ 150,7 milhões se refere a pagamentos de contratos já firmados anteriormente à inauguração da arena, pela Terracap [estatal do DF], proprietária do estádio", diz a nota enviada pela assessoria de imprensa da Secopa-DF (Secretaria Extraordinária da Copa do Distrito Federal) ao questionamento da reportagem sobre o valor. "São recursos já previstos e não despesas adicionais. Esclarecemos, ainda, que reajustamento, previsto em todos os contratos de obras, é atualização monetária, e não aditivos".
O governo do DF diz que o "Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha teve seu cronograma de obras antecipado em oito meses. Era para ter sido entregue apenas na Copa do Mundo. A obra foi inaugurada em maio de 2013, mas não estava paga na sua completude".
Nas contas oficiais, a arena sairá no total por R$ 1,4 bilhão. Apesar disso, o TC-DF diz que o Mané Garrincha já custou R$ 1,6 bilhão aos cofres do DF, R$ 200 milhões a mais do que diz o governo. Quando estiver completo, sairá por pelo menos R$ 1,9 bilhão de acordo com órgão de controle. Os R$ 300 milhões a mais são para a construção de dois túneis nas imediações para facilitar o acesso ao Mané Garrincha, assim como a urbanização e paisagismo no entorno, que até hoje não foi feita.
Segundo o governo do DF, o pacote pendente também diz respeito à "revitalização da área central de Brasília", e assim não pode ser considerado como pertencente ao estádio. Mas cerca de R$ 200 milhões deste total serão gastos apenas nos túneis, e o governo não detalha qual área além do entorno do estádio será beneficiada. De concreto, está prevista apenas algumas intervenções viárias no setor hoteleiro, anexo à região da arena.
Apesar de, no final, o custo do Mané Garrincha ser quase o dobro da arena construída pelo rei árabe, o acabamento nem de longe lembra aquele que os torcedores encontram na "jóia do deserto" ou seu entorno. No Mané garrincha, mármore ou pedras nobres, apenas nos camarotes e na maior parte em áreas no geral não disponíveis para o torcedor comum.
A maior parte da arena está no concreto cru mesmo, apenas com uma mão de tinta ou verniz por cima (dependendo do lugar analisado). Decoração, obras de arte e outras amenidades? Nem pensar. Os elevadores não podem ser usados por torcedores. Até a Copa das Confederações, jogadores e comissões técnicas enfrentavam banho frio nos vestiários. A sujeira também é um problema no Mané Garrincha: é possível constatar poeira e marca de barro por todos os lados nas arquibancadas.
Apesar de estar inaugurado desde maio de 2013, ainda há um canteiro de obras instalado anexo ao estádio. Faltam obras de sustentabilidade (captação de energia solar e conclusão do sistema de aproveitamento da água da chuva), no entorno, de acessibilidade e paisagismo.

* A lógica da sesta

Estudo revela que um cochilo após o almoço contribui para a solução de problemas lógicos. O resultado estaria relacionado com estágios do sono.
Por: Franciele Petry Schramm
Publicado em 09/05/2014 | Atualizado em 09/05/2014
A lógica da sesta
Experimento mostra que sesta pode contribuir para a solução de problemas lógicos. Outros benefícios cognitivos do sono, como consolidação de memórias, já eram conhecidos pelos pesquisadores. (foto: Ignacioleo/ Sxc.hu)
Ao longo dos últimos anos, pesquisadores vêm reforçando a importância do sono para a consolidação de memórias. Agora um trabalho realizado no Laboratório de Cronobiologia Humana (Labcrono)  da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostrou que a sesta – cochilo tirado ao longo do dia, em geral após o almoço – pode também contribuir para a solução de problemas lógicos.
A conclusão foi obtida após estudo  coordenado pelo neurocientista Fernando Mazzilli Louzada, em que 29 voluntárias – universitárias com idades entre 18 e 35 anos – foram expostas a um jogo de desafios. As que dormiram durante um intervalo de tempo ao longo do dia alcançaram um índice de sucesso duas vezes maior que o daquelas que não dormiram. 
No experimento, as participantes foram convidadas a jogar um jogo eletrônico de labirinto, composto de vários níveis e desafios
Para chegar a esse resultado, as participantes foram convidadas a jogar oSpeedy Eggbert Mania  – jogo eletrônico de labirinto, composto de vários níveis e desafios – até não conseguirem mudar de fase após 10 minutos de tentativas.
Nesse momento, a sessão de treinos foi suspensa, e uma breve refeição foi servida. As voluntárias foram então separadas em dois grupos (um com 14 e outro com 15 pessoas) e tiveram um intervalo de 90 minutos antes de fazer uma nova tentativa com o jogo.
Durante esse tempo, o grupo de 14 integrantes pôde dormir; o outro permaneceu em vigília. De volta ao jogo, 85,7% das participantes que tiraram um cochilo conseguiram completar o jogo a partir do ponto em que haviam parado. Já no grupo das jovens que ficaram acordadas, apenas 46,6% puderam completá-lo.
O biólogo Felipe Beijamini, um dos autores do estudo, conta que só duas jovens que haviam cochilado não resolveram o desafio. “Isso pode ter ocorrido porque elas não chegaram a atingir o estágio de ondas lentas cerebrais, um estado de sono mais profundo”, explica. 

Ciclos de sono

Uma noite de sono é composta por ciclos  de atividades cerebrais de diferentes padrões que duram em média 90 minutos e se repetem no decorrer na noite. O tempo de cochilo permitido às participantes do estudo possibilitou que elas passassem por m ciclo completo. 
O estágio de ondas lentas – que está associado à solução do desafio – faz parte de um tipo fisiológico de sono no qual há sincronização dos neurônios corticais, ou seja, quando esses neurônios passam a disparar em conjunto. 
O estágio de ondas lentas – que está associado à solução do desafio – faz parte de um tipo fisiológico de sono no qual há sincronização dos neurônios corticais
Segundo Beijamini – autor da tese ‘Sesta e desempenho cognitivo’, defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da UFPR –, é durante essa etapa que ocorre a transferência de informações do hipocampo (região do cérebro que abriga memórias de curta duração) para o córtex (que abriga memórias de longa duração). 
Pelo fato de as participantes terem sido expostas ao desafio antes da sesta, o sono permitiu associar a experiência recente com redes de memória desenvolvidas anteriormente. Com isso, a solução do jogo se tornou mais fácil.
O estágio do sono das participantes foi monitorado por meio da polissonografia, exame que mostra uma série de variáveis fisiológicas durante o sono, como a atividade das ondas celebrais. O mesmo exame foi feito nas voluntárias que permaneceram em vigília, para que os pesquisadores se certificassem de que elas ficaram acordadas. 

Resultados animadores

Beijamini afirma que os resultados do estudo podem ser relacionados exclusivamente com o sono, pois outras possíveis variáveis, como alimentação, foram controladas. A experiência das participantes com jogos eletrônicos também foi levada em conta. 
As voluntárias que declararam que tinham maior contato com esse tipo de atividade foram distribuídas de igual forma entre os dois grupos. “Mesmo essas não foram capazes de resolver o desafio na primeira tentativa”, aponta o biólogo. 
gráfico sesta
O gráfico indica o percentual de participantes que resolveram o desafio, de acordo com atividades desenvolvidas no intervalo do experimento. Estágios do sono podem estar relacionados com o índice de sucesso. (fonte: Labcrono-UFPR)
Para garantir a confiabilidade dos resultados, as jovens foram orientadas a não consumir bebidas e alimentos com cafeína no dia do experimento. O tempo de sono delas na noite anterior também foi levado em conta nas análises. 
Beijamini chama a atenção para a particularidade dos resultados encontrados. “Eles se referem a determinada população, faixa etária e sexo.” Para atribuir o benefício da sesta para todos, outros estudos devem ser realizados em públicos diferentes.  
Segundo o biólogo, os resultados indicam que o sono tem outras funções, além de seu papel na consolidação de memórias. Na sua opinião, isso mostra que provavelmente a atividade apresente vantagens que a garantiram no processo evolutivo humano. “O sono ajuda o indivíduo a enfrentar problemas no dia a dia, identificando soluções lógicas para eles.”

Franciele Petry Schramm
Especial para a CH On-line/ PR