domingo, 2 de março de 2014

* Mitos e Verdades sobre bebidas alcoólicas, ressaca e sobre o fígado.

Veja o que é mito ou verdade sobre álcool


MITOS E VERDADES SOBRE BEBIDAS ALCOÓLICAS:

Mulheres grávidas não devem beber álcool. VERDADE: o consumo excessivo e contínuo de álcool durante a gravidez pode ocasionar síndrome metabólica fetal (má formação no feto). "Não é certeza que a síndrome vá ocorrer, mas é um risco grande em qualquer estágio da gestação, em especial nos primeiros meses", diz o ginecologista e obstetra Pedro Paulo Bastos Filho, professor da Faculdade de Tecnologia e Ciência da Bahia (FTC). Segundo ele, nas primeiras 12 semanas, as drogas e o álcool, de um modo geral, podem causar má formação no feto. Após esse período, o risco diminui, mas no futuro o bebê corre risco de desenvolver deficits de inteligência e de atenção, pois a bebida pode destruir seus neurônios. "Não existe nenhum estudo demonstrando a dose segura de álcool na gravidez", destaca o médico 

Comer antes de beber ajuda a retardar os efeitos do álcool. VERDADE: a ingestão de alimentos retarda, temporariamente, o esvaziamento gástrico. "Como a absorção do álcool se dá principalmente no intestino, beber com o estômago cheio realmente retarda os efeitos do álcool", diz o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) 

Consumo de bebida alcoólica em excesso pode causar doenças a longo prazo. VERDADE: são inúmeras as doenças que podem ser provocadas pelo consumo abusivo. "Entre as agudas, estão a hepatite alcoólica e a pancreatite. Já as crônicas incluem a cirrose hepática, a insuficiência cardíaca, a pancreatite crônica, as neuropatias periféricas e as deficiências vitamínicas", aponta o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG)

Beber melhora o desempenho sexual. MITO: o álcool é um depressor do sistema nervoso central, o que deixa a pessoa mais desinibida em um momento inicial e pode favorecer o encontro sexual. Se o consumo for excessivo, no entanto, o efeito pode ser contrário e a excitação dará lugar à sonolência. "A inibição do sistema nervoso central pode bloquear o orgasmo e o desejo", diz o ginecologista e obstetra Pedro Paulo Bastos Filho, professor da Faculdade de Tecnologia e Ciência da Bahia (FTC). No homem pode, inclusive, dificultar a ereção. "O álcool em excesso prejudica a circulação e a parte neurológica do indivíduo, podendo levá-lo a falhar na hora "H" ou a ter um desempenho insatisfatório", afirma também o urologista Valter Javaroni, membro do departamento de sexualidade humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O uso prolongado e constante prejudica homens e mulheres. "A testosterona, o estrogênio e a progesterona são metabolizados no fígado. E para metabolizar a bebida, o fígado produz maior quantidade de uma enzima que é a mesma que causa a destruição dos desses hormônios sexuais", explica Bastos Filho

Se tiver insônia, tomar uma dose de bebida ajudará a dormir. VERDADE. Quando a pessoa está tensa, uma dose única de bebida alcoólica (uma taça de vinho, um copo de cerveja ou uma dose de uísque) pode levar a um relaxamento que ajudará a dormir. Mas antes de lançar mão desse artifício, é preciso saber o que pode estar ocasionando o mal. "É preciso tratar a insônia como um problema médico. Avaliar o que está acontecendo, se é apenas uma situação circunstancial ou se tem alguma outra causa", alerta o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Ele lembra que quando em excesso, no entanto, a bebida pode ter o efeito contrário: perturbar o sono e agravar o problema. "O álcool afeta o funcionamento cerebral e o metabolismo dos neurônios, podendo levar a uma noite mal dormida", diz o médico

O ideal é parar de ingerir bebidas alcoólicas quando se está tomando remédios. PARCIALMENTE VERDADE: depende do medicamento que o paciente está utilizando, por isso é importante consultar o médico e ler a bula antes de ingerir bebidas alcoólicas. O álcool interfere no metabolismo de alguns medicamentos, diminuindo ou aumentando seus efeitos, o que pode levar a uma ação inadequada do mesmo ou a eventos adversos. "Esta mistura é mais deletéria ainda para pacientes que utilizam medicação neurológica ou psiquiátrica", fala o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Especial atenção aos antibióticos, que têm sua ação bastante diminuída se tomados junto com bebidas

Bebidas alcoólicas cortam o efeito do antibiótico. VERDADE. A bebida interfere no metabolismo dos antibióticos, pois o álcool é metabolizado, em parte, pelas mesmas enzimas do fígado que ajudam a decompor os medicamentos. "Devemos lembrar, ainda, que alguns medicamentos utilizados como antibióticos, como o metronidazol e o tinidazol, se usados concomitantemente com a ingestão de álcool, podem causar mal-estar intenso, vermelhidão, taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos) e desmaios", alerta o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Além disso, a ingestão de altas doses de bebidas alcoólicas como a cerveja, por exemplo, que possui grande quantidade de água, tende a aumentar a diurese do paciente, o que também aumenta, consequentemente, a eliminação do antibiótico por meio da urina. "Isso faz com que o medicamento tenha seus níveis diminuídos no sangue, reduzindo sua eficácia e a chance de curar a infecção", fala o médico 

Mulheres são menos resistentes ao álcool que homens. VERDADE: as mulheres são mais sensíveis ao álcool por uma razão fisiológica: elas possuem maior concentração de gordura no corpo. "O álcool é lipossolúvel, ou seja, é diluído em gordura. Com isso, o metabolismo sofre certo atraso que faz com que o álcool circule por mais tempo", conta o neurologista José Mauro Braz de Lima, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Isso não significa, no entanto, que todas as mulheres sejam mais fracas que os homens no quesito bebida, e nem que não existam homens mais sensíveis ao álcool. As mulheres também são mais propensas a adquirir doenças oriundas do consumo de bebidas. Isso porque parte importante do metabolismo do álcool envolve um grupo de enzimas denominadas álcool desidrogenases. "Sabe-se que as mulheres produzem muito menos destas enzimas que os homens, tornando-se, assim, mais suscetíveis às doenças relacionadas ao álcool com a ingestão de menores quantidades", destaca o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG)

O alcoolismo é uma doença. VERDADE: alcoolismo é um estado associado a uma doença multissistêmica, ou seja, que não é específica e compromete vários órgãos e sistemas do corpo. "É, no conjunto, uma síndrome nosológica, ou seja, que pode dar doenças em vários órgãos, dependendo da pessoa", explica o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira. Entre os males causados pelo álcool estão as doenças hepáticas, do sistema nervoso periférico e central, do pâncreas e do fígado. "Ele leva, em 100% dos casos, a problemas neurológicos e psiquiátricos, perda cognitiva, dificuldade de raciocínio, esquecimento, distúrbios de comportamento, desorientação e falha de memória", continua o médico 

Embriaguez faz a pessoa perder a memória. VERDADE: o álcool é um depressor das células nervosas e, em doses altas, pode provocar perturbação no nível de consciência do indivíduo, gerando dificuldade no armazenamento de informações e deficit na capacidade de apreender dados naquele momento. Se constantes, as bebedeiras podem render problemas mais graves e duradouros, como dificuldade para gravar fatos na memória a longo prazo. "O alcoolismo crônico ou abuso de álcool constante são deletérios e levam à morte celular. Eles são a causa mais comum de deficit cognitivo e perda de função cognitiva", ressalta o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira 

Cerveja é menos nociva que outros tipos de bebida. MITO: apesar de ter um grau menor de álcool, a cerveja pode ser tão ou mais nociva para o organismo do que outras bebidas, se consumida em doses altas. "É a quantidade ingerida que será nociva. Por isso, é importante que se conheça a graduação alcoólica das bebidas", diz o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Ele ensina que as cervejas têm, em média, 6% de álcool, os vinhos, em torno de 12%, o uísque, o conhaque e algumas cachaças, em torno de 39%; porém há cachaças em que a graduação alcoólica chega a 50%. O cardiologista Nabil Ghorayeb, presidente do Departamento de Exercícios e Reabilitação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), lembra ainda que nem sempre quem bebe cerveja (e outras bebidas) apenas nos fins de semana pode se considerar livre dos problemas causados pelo álcool. "Há uma intoxicação cardiológica e do fígado por conta de todo esse álcool ingerido de uma só vez. E leva-se alguns dias para o organismo se recuperar", explica

Os efeitos da bebida alcoólica no corpo do idoso são iguais aos que ocorrem no do jovem. MITO: o jovem tem um organismo mais ativo e forte, então sofre menos os efeitos do álcool do que os mais velhos, que têm o corpo mais debilitado. "A idade faz com que se tenha uma tolerância menor e que se sinta mais os efeitos deletérios do álcool", diz o neurologista José Mauro Braz de Lima, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). O álcool também pode prejudicar outras condições. "Os idosos são mais vulneráveis aos efeitos das bebidas, pois, em geral, já possuem doenças como pressão alta e diabetes", lembra o gastroenterologis
ta Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo 

Não há problemas em tomar álcool durante uma refeição. VERDADE: desde que se beba de maneira comedida, como uma taça de vinho, um copo de cerveja ou uma taça de chope, por exemplo. É preciso verificar, ainda, se a pessoa não possui algum mal que impeça o consumo da bebida. "Quem tem doença pancreática ou neurológica e toma remédios para tratar esses males deve evitar o consumo em qualquer ocasião, pois o remédio exacerba o efeito do álcool e vice-versa", explica o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo 

Tomar comprimidos efervescentes evita o mal-estar e a ressaca. VERDADE. Pode evitar, desde que o comprimido contenha algum anti-inflamatório, como o ácido acetilsalicílico. "Ele pode aliviar o mal-estar e a ressaca, mas isso vai depender da sensibilidade da pessoa à bebida e do quanto ela bebeu", afirma o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). O ideal é sempre ingerir os comprimidos na hora da ressaca, e não antes de beber, como muitos costumam fazer. O médico alerta que esses medicamentos não são indicados para pessoas com gastrite, úlcera e problemas intestinais, pois podem agravar esses males 

Álcool também prejudica os reflexos. VERDADE: bebidas alcoólicas, quando ingeridas em grandes quantidades, causam alterações no cérebro que levam a perda do senso de organização, falta de coordenação dos movimentos, perturbação completa do sistema nervoso, motor e cognitivo. "A pessoa embriagada não consegue reagir no devido tempo aos estímulos do dia a dia, tem dificuldade para dirigir, realizar tarefas e trabalhar", explica o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira. Mesmo em doses bem pequenas, o álcool já é capaz de prejudicar o bom senso de uma pessoa e influenciar no autocontrole. "Uma mera dose já representa um risco, que varia de pessoa para pessoa. A bebida deixa o indivíduo mais desinibido e relaxado, e também sem limites e sem noção do perigo", destaca. Por isso, se beber, não dirija 

Induzir o vômito reduz o teor de álcool no sangue. MITO: segundo o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo, o vômito não faz a pessoa voltar à sobriedade. "Nesse estágio, o álcool já foi absorvido pelo organismo, então não adianta querer colocar para fora", diz. O alívio será apenas estomacal, já que a ânsia que muitas vezes se sente ao exagerar nas doses é devido a um estado de intoxicação alcoólica que levou a uma irritação do estômago pela presença do álcool 

Café ajuda a curar a embriaguez. MITO: o café tem uma dose muito pequena de cafeína para ser capaz de neutralizar a ação do álcool, que nesse estágio já atua no organismo como um todo. "Ele não deve ser usado como antídoto", segundo o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Uma dose de café, no entanto, não prejudica e pode ajudar a diminuir sutilmente os efeitos do álcool, por sua ação energética. "Ele é rico em substâncias que excitam o cérebro. Desta forma, é possível que ajude a diminuir o efeito depressivo central produzido pelo álcool", diz o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Porém, o ideal, de acordo com o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo, é deixar a pessoa embriagada dormir até que os efeitos da bebedeira passem

Bebidas gasosas e álcool pode ser uma combinação perigosa. MITO: não há risco direto de se beber álcool junto com um refrigerante, por exemplo, mas, por tornar a bebida mais doce e leve, essa combinação acaba levando um indivíduo a beber mais, sem perceber. "A pessoa acha que não está bebendo nada e quando nota já está embriagada", aponta o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC) e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) 

Misturar energéticos com bebidas alcoólicas pode fazer mal. VERDADE: em excesso, a combinação pode levar ao aumento da pressão arterial, palpitações, arritmias cardíacas e, em casos extremos, ao AVC e morte súbita, segundo a Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj). "Os energéticos escondem os sintomas de embriaguez, pois são estimulantes e contêm cafeína e taurina, que mascaram os efeitos do álcool que ocorrem depois da fase inicial de euforia, como sonolência e relaxamento. Os energéticos permitem que a pessoa beba por mais tempo e em maior quantidade e, portanto, deixam-na sujeita a embriaguez e a todos os riscos que isso acarreta, como redução de reflexos, riscos de quedas e acidentes, risco de dependência e até de morte", afirma a cardiologista Olga Ferreira de Souza, presidente da entidade. Além de cafeína, os energéticos são ricos em taurina, que aumenta a resistência física, o que eleva o risco de uma pessoa embriagada não notar seu estado e querer dirigir 

Consumo de alguns tipos de bebida evita a formação de pedra nos rins. MITO: não há qualquer relação entre estes dois fatos. O mito surgiu devido às constantes idas ao banheiro de pessoas que tomam muita cerveja. "Mas elas acabam urinando mais porque a cerveja tem mais água em sua composição do que outras bebidas. Quando se está bebendo uísque ou vinho, por exemplo, a quantidade de água é menor e isso influência no volume hídrico", afirma o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira. Segundo ele, a quantidade de excessiva de álcool tem o efeito contrário no organismo: pode bloquear a ação do hormônio antidiurético, secretado em casos de desidratação. Isso faz com que os rins conservem a água no corpo, diminuindo o volume da urina. "É a quantidade total de álcool ingerida, e não a quantidade de doses em si, que pode bloquear a ação desses hormônios", completa. Para manter a hidratação adequada do corpo e evitar pedras nos rins, o ideal ainda é ingerir água e sucos diariamente, e não sair por aí bebendo, segundo o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) 

Todas as pessoas digerem as bebidas alcoólicas da mesma forma. MITO: a digestão do álcool envolve um grupo de enzimas denominadas álcool desidrogenases. A maior ou menor presença destas substâncias no organismo é que determina como o álcool vai atuar no corpo de uma pessoa. "Por conta dessa enzima, algumas etnias digerem melhor o álcool do que outras. Normalmente, os orientais tem uma digestão mais difícil e sentem mais os efeitos colaterais das bebidas", conta o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). E
ssa variação também pode acontecer de pessoa para pessoa. Mulheres, em geral, são mais sensíveis ao álcool, pois também possuem menos enzimas que os homens 

Uma pessoa acima do peso sente mais os efeitos do álcool. VERDADE: o álcool é lipossolúvel, ou seja, se dilui em gordura. Uma pessoa acima do peso tem maior quantidade de massa gorda e, dessa forma, o álcool se distribui em maior quantidade no seu organismo. "Nessas pessoas, o efeito do álcool se expressa mais rapidamente e intensamente", explica o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira. Por outro lado, a pessoa obesa, em geral, come mais e pode ser mais comum que esteja com o estômago cheio antes de beber, o que ameniza os efeitos da bebida. "Isso faz com que a absorção do álcool seja mais lenta, porque o estômago vai demorar mais pra esvaziar", diz o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo 

Misturar bebidas diferentes pode levar à embriaguez mais rapidamente. MITO: o que faz uma pessoa ficar embriagada ou não é a quantidade total de álcool que ingere, e não o tipo de bebida. Por outro lado, a mistura de bebidas fermentadas e destiladas, por exemplo, pode fazer mal aos mais sensíveis. "Cada bebida tem as suas sustâncias paralelas. Como o organismo reagirá a elas varia de pessoa para pessoa. Para alguns, ingerir diferentes bebidas pode atrapalhar a digestão, para outras, não", destaca o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira e membro. Misturar bebidas simples, como a cerveja, com outras mais complexas, pode também potencializar a ressaca do dia seguinte. "Quanto mais sofisticada (colorida, envelhecida, com aroma) e fermentada for a bebida, maior a chance de dar ressaca", diz o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo

Beber uma taça de vinho por dia faz bem ao coração. PARCIALMENTE VERDADE: essa é uma questão polêmica, que divide opiniões. Para alguns médicos, a ingestão de qualquer quantidade de álcool é maléfica. "Devemos encarar o álcool como uma droga. Foi criado um mito de que o uso de álcool em pequenas quantidades diminuiria o risco de doenças cardiovasculares. No entanto, não há evidência científica adequada que comprove isso", avalia o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Outros profissionais, no entanto, apontam que já há estudos que comprovem o bem que o álcool pode fazer ao organismo, quando em pequenas doses. "Há mais de 20 anos existem estudos que demonstram que substâncias presentes principalmente nos vinhos europeus são antioxidantes e ajudam a proteger o coração", diz o cardiologista Nabil Ghorayeb, presidente do Departamento de Exercícios e Reabilitação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Ele faz questão de frisar que, no entanto, não se pode tratar essas bebidas como remédio. "Pequenas quantidades de álcool têm efeitos positivos para algumas enzimas do corpo humano. Mas quando em excesso, o álcool tem o efeito contrário e pode prejudicar a saúde", diz. Para não ultrapassar o limite aceitável, ele recomenda o meio termo. "Em um dia se toma vinho e no outro, suco de uva, para evitar o estímulo ao alcoolismo, doença que tem crescido nos últimos anos", diz

Para muita gente, Carnaval é sinônimo de bebedeira e paquera. Mas nem sempre as duas coisas são compatíveis. O álcool é um depressor do sistema nervoso central, por isso deixa a pessoa mais desinibida em um momento inicial. Mas, se o consumo for excessivo, o efeito pode ser contrário e a excitação dá lugar à sonolência, prejudicando o desempenho sexual.

"O álcool em excesso prejudica a circulação e a parte neurológica do indivíduo, podendo levá-lo a falhar na hora 'H' ou a ter um desempenho insatisfatório", explica o urologista Valter Javaroni, membro do departamento de sexualidade humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

A bebida alcoólica é um assunto sério e merece atenção, em especial nesta época do ano, em que as pessoas costumam extrapolar nas doses por dias seguidos e, muitas vezes, pegar a estrada na sequência. No ano passado, sete pessoas morreram nas estradas federais do país no feriado de Carnaval por conta do excesso de bebida. Além disso, outras mortes, por falta de atenção (32 casos), ultrapassagem indevida (25) e velocidade incompatível (16) também podem ter tido relação com a ingestão de álcool.

As bebidas alcoólicas, quando ingeridas em grandes quantidades, causam alterações no cérebro que levam à perda do senso de organização, falta de coordenação dos movimentos, perturbação completa do sistema nervoso, motor e cognitivo. "A pessoa embriagada não consegue reagir no devido tempo aos estímulos do dia a dia, tem dificuldade para dirigir, realizar tarefas e trabalhar", diz o neurologista José Mauro Braz de Lima, coordenador do programa de saúde de problemas com álcool e drogas da Cruz Vermelha brasileira e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Mesmo em doses bem pequenas, o álcool já é capaz de prejudicar o bom senso de uma pessoa e influenciar no autocontrole. "Uma mera dose já representa um risco, que varia de pessoa para pessoa. A bebida deixa o indivíduo mais desinibido e relaxado, e também sem limites e sem noção do perigo", destaca Lima. Por isso, se beber, não dirija.

O excesso de bebida prejudica, ainda, a memória. O álcool é um depressor das células nervosas e, em doses altas, pode provocar perturbação no nível de consciência do indivíduo, gerando dificuldade no armazenamento de informações e deficit da capacidade de apreender dados naquele momento. Portanto, aquele amigo que exagera na bebida e depois diz que não lembra o que aconteceu provavelmente está falando a verdade.

MITOS E VERDADES SOBRE A RESSACA:

Beber água previne e combate a ressaca. VERDADE: a bebida alcoólica diminui a concentração de água e sódio no intestino, portanto beber água previne a ressaca, segundo Paulo Giorelli, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia no Rio de Janeiro. A nutricionista Maristela Bassi, da ADJ Diabetes Brasil, lembra que o álcool é diurético, portanto a água ingerida previne a dor de cabeça e a sensação de secura, além ajudar a combater os tremores e a sensação de cansaço. Já para a gastrocirurgiã do Hospital 9 de Julho, Paula Volpe, a hidratação contribui para a troca de líquidos do corpo 

Alimentar-se bem previne a ressaca. PARCIALMENTE VERDADE: quando você se alimenta antes de beber, o organismo aumenta o nível de glicose, que é a fonte de energia reduzida pelo álcool. "A alimentação pode melhorar a tolerância à bebida e reduzir a absorção alcoólica, entretanto, não previne nem combate os sintomas da ressaca", diz Paula Volpe, gastrocirurgiã do Hospital 9 de Julho 

Doces previnem e combatem a ressaca. PARCIALMENTE VERDADE: "Os doces podem equilibrar um pouco a quantidade de açúcar no sangue", afirma Paulo Giorelli, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia-RJ. "Prefira goiabada e mel ao chocolate, que tem gordura e atrapalha a digestão", orienta Maristela Bassi, nutricionista da ADJ Diabetes Brasil 

Má qualidade da bebida dá ressaca. MITO: algumas pessoas sentem dor de cabeça ao ingerir bebidas de baixa qualidade. Mas outras têm o mesmo sintoma ao ingerir bebidas alcoólicas de boa qualidade, observa a gastrocirurgiã do hospital 9 de Julho, Paula Volpe 

Beber pouco evita a ressaca. MITO: beber pouco não é uma garantia para prevenir a ressaca. "Depende da tolerância ao álcool de cada um", afirma Paula Volpe, gastrocirurgiã do hospital 9 de Julho 

Não misturar bebidas previne a ressaca. MITO: "Não misturar bebidas fermentadas e destiladas talvez seja o maior mito sobre ressaca. Não há problema na ingestão de um copo de cerveja, uma taça de vinho e uma caipirinha quando a pessoa tem o hábito de beber, mas pode haver se consumir grande volume alcoólico. O problema é muito mais comum em bebedores amadores ou iniciantes, que dão vexame no final das festas", afirma a endocrinologista e nutróloga do Citen, Ellen Paiva 

Analgésicos ajudam a curar a ressaca. VERDADE: a gastrocirurgiã do Hospital 9 de Julho, Paula Volpe, confirma que ajudam a curar a dor de cabeça da ressaca, mas, se usados em excesso, prejudicam o fígado. "A polêmica maior está no uso de analgésico antes de beber. Para alguns, a medida dá certo, mas para outros e dependendo do analgésico, a conduta é totalmente ineficiente", comenta Ellen Paiva, endocrinologista e nutróloga do Citen 

Antiácidos contribuem para combater a ressaca. PARCIALMENTE VERDADE: "Os antiácidos dão conforto ao estômago", diz a gastrocirurgiã do Hospital 9 de Julho, Paula Volpe. Já Ellen Paiva, médica do Citen, alerta que os mesmos só podem ser ingeridos em tratamentos contra gastrites, pois não há respaldo científico que comprove que esse alívio se deva ao medicamento, com exceção dos casos de excesso de ácido gástrico

Remédios para enjoo funcionam na ressaca. VERDADE: os remédios para enjoo (antieméticos) ajudam a controlar o sintoma. Mas, se houver vômitos, a endocrinologista e nutróloga do Citen recomenda procurar um pronto-socorro, para receber medicação intravenosa

Descansar ajuda a recuperar-se da ressaca. VERDADE: o descanso contribui para a melhora dos sintomas da ressaca. "Neste estado, atividades físicas não são recomendadas", alerta Paula Volpe, gastrocirurgiã do Hospital 9 de Julho. "Muitas vezes, a posição de pé desencadeia baixa de pressão e piora do mal-estar, náusea e vômito", acrescenta Ellen Paiva, endocrinolog
ista e nutróloga do Citen

Café amargo cura ressaca. MITO: os especialistas ouvidos nesta reportagem esclarecem que a bebida, por ter cafeína, só ajuda a combater o estado de moleza, fraqueza e mal-estar, daí a sensação de melhora. No entanto, a bebida não hidrata (embora também não desidrate). Em todo caso, se for tomar café, adoce, para repor a glicose.

Chá de boldo ameniza sintomas da ressaca. PARCIALMENTE VERDADE: a gastrocirurgiã Paula Volpe, do Hospital 9 de Julho, afirma que não há comprovação científica, mas algumas pessoas que relatam sensação de estômago cheio e inapetência após consumir muito álcool, melhoram ingerindo chá de boldo 

Refrigerante contribui para curar a ressaca. MITO: "O refrigerante apenas deixa a pessoa mais hidratada, mas não previne nem cura ressaca. O gás também não traz mais conforto ao estômago", relata a gastrocirurgiã Paula Volpe, do Hospital 9 de Julho. "Quando há irritação gástrica e vômitos intensos, refrigerantes podem agravar o quadro, assim como qualquer ingestão hídrica em grande volume", observa a endocrinologista e nutróloga do Citen, Ellen Paiva 

Água de coco ajuda a vencer a ressaca. VERDADE: ajuda a curar a ressaca por hidratar e repor glicose, potássio e fósforo perdidos na desidratação pelo etanol, segundo Maristela Bassi, nutricionista da ADJ Diabetes Brasil

Ressaca melhora com isotônicos. VERDADE: podem ser úteis no tratamento da ressaca pelo teor de eletrólitos, essenciais na reposição dos sais minerais. "Os isotônicos têm elevado conteúdo de sódio, mas ingeri-los em situações pontuais não traz problema", diz Ellen Paiva, endocrinologista e nutróloga do Citen 

Gengibre reduz enjoos da ressaca. VERDADE: ajuda a combater a náusea, azia e má digestão, afirma a nutricionista da ADJ Diabetes Brasil, Maristela Bassi. Vale fazer chá, incluir no suco de melancia ou até chupar bala de gengibre, apesar de não haver comprovação científica 

Ovo cru cura ressaca. MITO: os especialistas alertam que ovos crus podem ter salmonela, bactéria que causa infecções. Mas o ovo cozido pode ajudar a combater a ressaca por conter um aminoácido chamado cisteína, que contribui para eliminar do organismo o acetaldeído, subproduto do etanol, explica a nutricionista Maristela Bassi, da ADJ Diabetes Brasil. Já para Ellen Paiva, médica do Citen, não há nenhuma evidência de que previna ou trate 

Hortelã ajuda a vencer a ressaca. MITO: a nutricionista Maristela Bassi, da ADJ Diabetes Brasil, diz que a planta é popularmente conhecida como digestivo, mas a evidência científica é baixa. "Como qualquer outro chá, pode ajudar apenas como hidratante", observa Ellen Paiva, endocrinologista e nutróloga do Citen

Ressaca melhora com o consumo de carboidratos. VERDADE: se os sintomas permitirem, alimente-se com carboidratos como pão e macarrão, que são convertidos em glicose pelo organismo e ajudam a repor o açúcar, recomenda a nutricionista Maristela Bassi, da ADJ Diabetes Brasil 

Um copo de cerveja pode rebater a ressaca. MITO: segundo a gastrocirurgiã Paula Volpe, do Hospital 9 de Julho, beber cerveja ou outra bebida alcoólica não ajuda a curar a ressaca, nem é recomendável, pois o organismo precisa se desintoxicar. "As pessoas que fazem isso, na verdade, não estão de ressaca e são aquelas que têm uma grande tolerância ao álcool", comenta Ellen Paiva, endocrinologista e nutróloga do Citen 

Suco de tomate ajuda a combater a ressaca. PARCIALMENTE VERDADE: os especialistas afirmam que não é recomendado, pois é muito ácido para o estômago. Mas Ellen Paiva, endocrinologista e nutróloga do Citen diz que, não se sabe o motivo, mas a bebida temperada com uma pitadinha de sal ajuda muita gente. Para Paula Volpe, médica do Hospital 9 de Julho, pode contribuir para a hidratação, como qualquer suco 

Fumar piora a situação. VERDADE: "Fumar pode piorar qualquer situação já calamitosa. Geralmente, quando abusamos do álcool, abusamos também do tabaco. Ele piora a náusea, as agressões ao estômago e a oxigenação do sangue", alerta Ellen Paiva, médica do Citen 

Um remédio antes e outro depois de beber funciona. MITO: segundo Paulo Giorelli, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia-RJ, não existe nenhum medicamento com comprovação científica para prevenir a ressaca. "Na melhor das hipóteses diminuem os sintomas", afirma a médica do Hospital 9 de Julho, Paula Volpe

Bebedor social

Há muitas pessoas que bebem apenas nos fins de semana, e acham que desta forma estão livres dos males do álcool. Isso depende, no entanto, da quantidade que a pessoa ingere. "Bebedor social é aquele que bebe apenas em festas, e não todos os fins de semana. Há muita confusão sobre esse termo. Eu já tive paciente que dizia que só bebia aos sábados, mas somente neste dia ele ingeria 12 litros de cerveja", conta o cardiologista Nabil Ghorayeb, presidente do Departamento de Exercícios e Reabilitação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Apesar de ter um grau menor de álcool, a cerveja pode ser tão ou mais nociva para o organismo do que outras bebidas, se consumida em doses altas. "É a quantidade ingerida que será nociva. Por isso, é importante que se conheça a graduação alcoólica das bebidas. Por exemplo, as cervejas têm, em média, 6% de álcool, os vinhos, em torno de 12%, o uísque, o conhaque e algumas cachaças, em torno de 39%; porém há cachaças em que a graduação alcoólica chega a 50%", ensina o gastroenterologista Laércio Tenório Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

O excesso de bebida, mesmo que em apenas um dia por semana, já é bastante nocivo e pode acarretar doenças a longo prazo. "Há uma intoxicação cardiológica e do fígado por conta de todo esse álcool ingerido de uma só vez. E leva-se alguns dias para o organismo se recuperar", explica.

Entre os males causados pelo álcool estão as doenças hepáticas, do sistema nervoso periférico e central, do pâncreas, do fígado e do estômago. "Ela não tem uma ação apenas localizada. O fígado poucas vezes se manifesta, só quando está com bastante lesão. Quando a pessoa sente ânsia, não é o fígado que está ruim, é o estômago", explica Ghorayeb. "Ele leva, em 100% dos casos, a problemas neurológicos e psiquiátricos, perda cognitiva, dificuldade de raciocínio, esquecimento, distúrbios de comportamento, desorientação e falha de memória", completa Lima.

Sempre que for beber, é importante se alimentar antes, pois a ingestão de alimentos retarda, temporariamente, o esvaziamento gástrico. "Como a absorção do álcool se dá principalmente no intestino, beber com o estômago cheio realmente retarda os efeitos do álcool", diz Ribeiro.

ENTENDA O CAMINHO DO ÁLCOOL PELO CORPO E POR QUE A RESSACA APARECE NO DIA SEGUINTE

  • Arte/UOL
Outro ponto importante é tomar líquidos entre as doses, já que o álcool em excesso pode bloquear a ação do hormônio antidiurético, secretado em casos de desidratação do organismo.

No Carnaval, isso se torna ainda mais importante. "Quem vai pular Carnaval de rua, em salões ou vai assistir aos desfiles das escolas de samba precisa ter condição física de um maratonista. Existe um desgaste do corpo que tem de ser reposto. É preciso se alimentar bem, ingerir líquidos, não ficar só na bebida alcoólica. A cerveja tem pouca quantidade de álcool e muita de água, é mais hidratante. Mas mesmo assim tem de tomar água junto. Se suou bastante tem que repor esse líquido perdido. Um isotônico é uma boa alternativa", aponta o cardiologista.

Álcool vetado

É importante lembrar que algumas pessoas não devem beber, ainda que a tentação do Carnaval fale alto. "Quem tem doença pancreática ou neurológica e toma remédios para tratar esses males deve evitar o consumo em qualquer ocasião, pois o remédio exacerba o efeito do álcool e vice-versa", explica o gastroenterologista Ricardo Barbuti, médico-assistente do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC) e membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

Outro grupo com restrições é o de pessoas com doenças como diabetes, pressão alta e cardiopatias. "O álcool contém açúcar, e isso pode levar o diabético a ingerir a substância em doses elevadas. O hipertenso e o cardiopata podem ter uma piora no quadro causada pela bebida", destaca Ghorayeb.

Se for ingerir álcool, tome apenas pequenas doses e corte alimentos que se transformam em açúcar (para os diabéticos) e aqueles mais pesados, gordurosos e salgados (no caso dos hipertensos ou que têm problemas cardíacos). Esses últimos devem passar longe do tradicional combo de Carnaval: churrasco com cerveja (e outras bebidas). "Se você está com o pneu careca, não vai entrar em uma estrada cheia de pedregulho. Da mesma forma, se quer beber, é preciso equilibrar isso com alimentação e ter limites", frisa o cardiologista.

Para as grávidas, a restrição deve ser total. "Não existe nenhum estudo demonstrando a dose segura de álcool na gravidez", fala o ginecologista e obstetra Pedro Paulo Bastos Filho, professor de obstetrícia da Faculdade de Tecnologia e Ciência da Bahia (FTC) e membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Segundo ele, até as 12 primeiras semanas, a gestação encontra-se no período embriopático, no qual as drogas de um modo geral, incluindo o álcool, podem causar má formação no feto. Após esse período, o risco diminui, mas no futuro o bebê corre risco de desenvolver deficits de inteligência e de atenção, pois a bebida pode destruir seus neurônios.
MITOS E VERDADES SOBRE O FÍGADO:
A enxaqueca é causada pelo fígado. MITO: segundo os especialistas entrevistados, alguns alimentos podem até desencadear uma enxaqueca, mas isso nada tem a ver com o fígado. "A enxaqueca é uma dor de cabeça de origem vascular e tem componente genético", conta o hepatologista Raymundo Paraná. "Há diversos tipos e causas de enxaqueca, e a maioria deles está associada ao cérebro", diz Liliana Ducatti Lopes, cirurgiã da equipe de transplante de fígado e órgãos do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O coordenador do Instituto do Fígado do Hospital Beneficência Portugusa, Ben-Hur Ferraz Neto, alerta que, no caso de ressaca, não devemos fazer uso de paracetamol. "Aliás, o uso do paracetamol deve ser feito com parcimônia, uma vez que se trata de medicação hepatotóxica, ou seja, danosa ao fígado". 
Os sintomas da ressaca são provocados pelo fígado. PARCIALMENTE VERDADE: a ressaca pode acontecer sem que o fígado esteja agredido. "Trata-se de um mal-estar causado pelo efeito anticolinérgico do álcool, associado à desidratação. Um produto do metabolismo do álcool gerado no fígado (o acetaldeido) explica em parte esses sintomas", afirma o hepatologista Raymiundo Paraná. "Outro sintoma é a desidratação, por isso é importante tomar bastante água. Se sabe que terá uma festa e vai beber no dia seguinte, tome isotônico um dia antes. Ou para cada taça de álcool, tome duas de água", ensina a hepatologista Monica Viana, acrescentando que o uso do paracetamol para a dor de cabeça deve ser feito com cuidado, uma vez que se trata de medicação hepatotóxica, ou seja, prejudicial ao fígado 
Toda bebida alcoólica passa pelo fígado. VERDADE: "O metabolismo do álcool começa no estômago e termina no fígado", diz o hepatologista Raymundo Paraná. "Sempre! Além do álcool, todos os medicamentos e toda alimentação passa por ele. Por isso, melhor não tomar paracetamol após beber, pois a mistura pode causar danos ao fígado", alerta a hepatologista Monica Viana
Enjoo é sinal de problemas no fígado. PARCIALMENTE VERDADE: enjoo é um sintoma genérico que ocorre em diversas doenças, inclusive nas do fígado. "Enjoo pode sinalizar um sintoma associado a muitas outras situações clínicas, inclusive problema nos olhos", conta Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia 
O fígado abastece o corpo quando ficamos em jejum. VERDADE: o fígado tem reservas de glicose, que é o combustível das nossas células. "A glicose gera a nossa energia", explica o hepatologista Raymundo Paraná. A cirurgiã Liliana Ducatti detalha que o fígado armazena glicose em forma de glicogênio e, numa situação de jejum prolongado, este é liberado para suprir o organismo 
Chás fazem mal ao fígado. PARCIALEMENTE VERDADE: o hepatologista Raymundo Paraná diz que alguns podem fazer, se consumidos em excesso. E ele faz um alerta em relação a chás com suposto efeito terapêutico: "A ideia de que o natural faz bem é completamente falsa e obedece a um interesse de mercado. O que faz bem é o que é devidamente estudado sob as normas da ciência médica", afirma o médico, que é professor da Universidade Federal da Bahia. Ele lista alguns chás que podem causar danos ao fígado: picão preto (carrapicho), sacaca, cáscara-sagrada, espinheira-santa, confrei, erva-mãe-boa, sene e poejo. "Melhor optar por chá de erva-cidreira ou erva-doce. Já tive um paciente que ficou na UTI por causa de excesso de chá verde. Melhor ainda é tomar água", alerta a hepatologista Monica Viana 
O ideal é comer doces quando se tem hepatite. MITO: para Raymundo Paraná, médico hepatologista, este é um conceito absolutamente ultrapassado. Ele afirma que nenhum alimento faz mal diretamente ao fígado, nem mesmo a pimenta."O fígado odeia açúcar, que se transforma em gordura. O ideal é evitar doces!", diz Monica Viana, hepatologista do Hospital do Servidor Público de São Paulo 
Medicamentos precisam passar pelo fígado para fazerem efeito. VERDADE: a hepatologista Monica Viana diz que há o metabolismo hepático de primeira passagem, quando o medicamento é absorvido pelo trato gastrointestinal. Antes de entrar na circulação geral, ele passa pela chamada "circulação porta", que transporta o sangue dos órgãos abdominais para o fígado
Pele amarelada é um dos sinais de problema no fígado. VERDADE: sobretudo se os olhos também estão amarelos e a urina escura, comenta o hepatologista Raymund Paraná. A hepatologista Mônica Viana completa que o amarelão é provocado pelo acúmulo de bilirrubina, um subproduto dos glóbulos vermelhos velhos. "Pode ser um tipo de hepatite ou até câncer de pâncreas", avisa 
O fígado é o único órgão que sempre se regenera. PARCIALMENTE VERDADE: segundo a cirurgiã Liliana Ducatti, ele se regenera e chega ao tamanho habitual, mas cresce em massa. Exemplificando: se retiramos o lobo direito, extraímos muitas vezes a veia direita e artéria direita do fígado junto. Este fígado com lobo esquerdo que restou vai crescer até ficar no tamanho habitual, mas ele não irá criar um "novo lobo direito". Também não terá mais a veia e a artéria direitas, que foram retiradas. Segundo o coordenador do Instituto do Fígado do Hospital Beneficência Portugusa, Ben-Hur Ferraz Neto, após a regeneração do fígado, todas as capacidades iniciais estarão mantidas ou restabelecidas. "Não há qualquer comprometimento na função hepática", diz. O coordenador de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcelo Bruno de Rezende, esclarece que um fígado normal retoma suas funções. "Porém, se falarmos em um cirrótico ou em casos de câncer, quando o paciente faz quimioterapia, a parte que ficou após a cirurgia irá se regenerar em tamanho, mas não em funções, pois não se trata de um órgão saudável"
O fígado é a maior glândula do corpo humano. VERDADE: não é só a maior glândula como também o segundo maior órgão, perdendo apenas para a pele. "É uma usina que produz as nossas proteínas e um órgão imunológico que nos defende das infecções", aponta o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia. A hepatologista Monica Viana completa dizendo que o órgão produz vários hormônios importantes como, por exemplo, a trombopoetina, hormônio que regula a produção de plaquetas pela medula óssea 
É o fígado que envia energia para todo o organismo. PARCIALMENTE VERDADE: as células do fígado atuam como reserva de energia, dessa forma, quando alguma outra parte do corpo necessita dela, o órgão envia a glicose pela circulação. "Não especificamente energia, mas o fígado se conecta com todo o organismo como um grande maestro. Se o fígado falha, podem falhar os rins, o pulmão, o coração e as glândulas suprarrenais, por exemplo", diz o hepatologista Raymundo Paraná. Já a médica Monica Viana faz um alerta: "É preciso frisar que ele demora para fazer isso e tem os seus limites"
É comum sentir dor no fígado quando se tem hepatite. PARCIALMENTE VERDADE: segundo o hepatologista Raymundo Paraná, pode haver dor, mas não sempre. "Quando a pessoa tem hepatite, o fígado aumenta de tamanho e o paciente pode sentir um desconforto no lado direito, bem abaixo das costelas", confirma a cirurgiã Liliana Ducatti 
Examinando o fígado pode-se diagnosticar várias doenças. VERDADE: segundo o hepatologista Raymundo Paraná, um exame físico cuidadoso pode mostrar se o órgão está acometido por doenças sistêmicas como vasculites, lúpus, deficiências enzimáticas de origem genética e várias parasitoses. "Muitas doenças reumáticas descobrimos assim, por exemplo. Já a gordura no fígado pode ser diabetes e o paciente nem sabe que tem. Há também a anemia falciforme", diz a hepatologista Monica Viana
Remédio em excesso faz mal ao fígado. PARCIALMENTE VERDADE: o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia, diz que é preciso entender que a maioria dos casos de toxicidade por medicamentos é imprevisível. "É o produto do metabolismo do remédio gerado no fígado que pode causar a toxicidade. O problema é que cada pessoa metaboliza uma mesma droga de forma diferente. Há também implicações genéticas que tornam a toxicidade imprevisível para diversos medicamentos". A também hepatologista Monica Viana lembra que não só remédios, mas vitaminas e chás também podem fazer mal, assim como vários anti-inflamatórios e antidepressivos. "Muitos dentistas, quando tiram o dente do siso do paciente, recomendam o iboprufeno, que também pode fazer muito mal ao fígado", diz ela. O coordenador de transplantes do Hospital Israelense Albert Einstein, Marcelo Bruno de Rezende, afirma que muitas drogas podem causar falência hepática, como flutamida ou metildopa, assim como o paracetamol. "Isso se forem tomadas doses por longos períodos ou em excesso, por isso é importante ter o acompanhamento médico e usar com parcimônia!" 
O bom funcionamento do fígado está ligado ao bom humor. MITO: na Grécia antiga se tinha esta crença. "Como a bile é amarga, acreditava-se que o fígado purgava o amargor da vida, portanto seria responsável pelo humor. Hoje sabemos que não é nada disso", diz o hepatologista Raymundo Paraná. A cirurgiã Liliana Ducatti, da equipe de transplante de fígado e órgãos do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirma que as alterações do nosso humor estão ligadas ao funcionamento do cérebro e seus neurotransmissores
Pessoas com hepatite têm maiores chances de desenvolver câncer de fígado. VERDADE: "Especialmente se a hepatite for crônica", alerta o hepatologista Raymundo Paraná, acrescentando: "Isso pode acontecer com as hepatites B, C e D". A cirurgiã Liliana Ducatti concorda: "Uma inflamação crônica do fígado pode levar ao desenvolvimento de câncer com maior frequência" 
O fígado da criança é proporcionalmente maior do que o do adulto. VERDADE: nascemos com o fígado quase do mesmo tamanho que o de um adulto
Alimentos gordurosos fazem mal ao fígado. PARCIALMENTE VERDADE: para o hepatologista Raymundo Paraná, a gordura faz mal ao organismo como um todo, mas não especificamente ao fígado. "Pior ainda é o açúcar. Eu sempre falo para meus pacientes que doce é pior que picanha. A pessoa está triste? Como doce! Brigou com o namorado? Come chocolate. Falam que carne faz mal, mas se comer fraldinha ou filé mignon, com parcimônia, não tem problema", diz a hepatologista Monica Viana
Mesmo sem funcionar bem, o fígado continua a eliminar toxinas. VERDADE: ainda que doente, o órgão funciona até os estágios terminais. "O fígado é o órgão mais guerreiro que Deus inventou. Como já falei, ele funciona até estar com 80% a 90% de sua capacidade comprometida, sem que apareçam sinais disso", afirma a hepatologista Monica Viana
Magros também podem ter o fígado recheado de gordura. VERDADE: o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia, conta que pacientes magros com dislipidemia (presença de níveis elevados ou anormais de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue) ou resistência à insulina de origem genética podem ter gordura no fígado de forma semelhante aos obesos. "Especialmente diabéticos que nem sabem que têm a doença", frisa a hepatologista Monica Viana. Ela conta que a pessoa precisa fazer um exame para verificar o colesterol e triglicérides com 12 horas de jejum, mas que muitos laboratórios deixam o paciente esperando e horas a mais causam diagnósticos errados. "Gordura no fígado é uma epidemia. Quando chegam no hepatologista, já estão com 80% a 90% do fígado destruído. Daí, só com um transplante", finaliza
Transplantes de fígado costumam ser bem-sucedidos. VERDADE: transplantes de fígado são seguros e a sobrevida do paciente é longa e de qualidade, afirma o hepatologista Raymundo Paraná. Mas a cirurgiã Liliana Ducatti lembra que, ainda que os resultados do transplante sejam muito bons atualmente, não deixa de ser uma cirurgia muito grande e delicada. "Não me canso de falar que o Brasil é o país que faz o melhor transplante de fígado do mundo. O problema é a espera. São dois a três anos na fila. Precisamos aumentar a campanha de doação de órgãos", indica a hepatologista Monica Viana. O coordenador de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcelo Bruno de Rezende, conta que tudo depende da compatibilidade do peso e do tipo sanguíneo. "Podemos dividir um fígado adulto e fazer dois transplantes. Ou transplantar um fígado infantil num adulto. O órgão tem de pesar 1% do peso da pessoa. Assim, um adulto de 70 quilos precisará de um fígado de no mínimo 700 gramas. Hoje temos 15 doares para cada milhão de habitantes. A meta é chegar a 20, pois muitos ainda morrem na fila" 
Alimentos amargos como alcachofra fazem bem ao fígado. MITO: segundo o hepatologista Raymundo Paraná, a alcachofra, assim como fitoterápicos ou medicamentos que são vendidos como protetores do fígado (extrato hepático, silimarina, vitamina B e metionina) não possuem comprovação científica. "Os hepatologistas não os prescrevem", encerra. "Alcachofra diminui o colesterol e ajuda na digestão, mas afirmar que os alimentos amargos ajudam o fígado não tem nenhum fundamento", completa a hepatologista Monica Viana
Dietas desintoxicantes ajudam a proteger o fígado. MITO. "Esta é uma situação absurda de ataque à boa fé das pessoas, São modismos para ganhar dinheiro às custas da ingenuidade alheia. Tudo isso é crendice. As dietas desintoxicantes do fígado são uma grosseira enganação. Caso de polícia. Infelizmente, este tipo de prática está cada vez mais comum no Brasil", afirma o hepatologista Raymundo Paraná. Já a cirurgiã Liliana Ducatti alerta que toda dieta bem equilibrada faz bem para o fígado como para todo o organismo, mas não existe um alimento milagroso que proporcione uma desintoxicação. "Cuidado, pois vive surgindo alguma maluquice "do momento". Cuidado com chás verdes, como falei antes, já tive um paciente na UTI por excesso desta bebida. Melhor tomar água!", ensina a hepatologista Monica Viana
Protetores hepáticos de venda livre são úteis após o abuso de álcool e gordura. MITO: todos os entrevistados afirmaram que não há comprovação da eficácia de produtos como fitoterápicos ou medicamentos que são vendidos como protetores do fígado. Caso do extrato hepático, da silimarina, da vitamina B e metionina. "Os hepatologistas não os prescrevem", revela o hepatologista Raymundo Paraná. "O melhor é tomar água. Quando algum paciente irá passar por cirurgia, peço que tome fluimucil, que é usado para exames que precisem de contraste, pois protege o fígado, mas só nessas ocasiões eu o recomendo", conta a hepatologista Monica Viana 
Doenças hepáticas são diagnosticadas com exames simples de sangue. VERDADE: "Quando falamos em check-up, lembramos apenas do coração, mas é preciso saber que o fígado é um órgão silencioso. Ele tolera uma agressão por anos sem qualquer sintoma. Se fizermos exames de sangue simples como AST (aspartato aminotransferase), ALT(alanina aminotransferase), fosfatase alcalina e Gama GT (gama glutamil transferase), poderemos diagnosticar precocemente várias doenças. O anti-HCV (marcador de triagem para a hepatite C) e o AgHBs nos ajudam no diagnóstico precoce das hepatites, por exemplo", conta o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia


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