quarta-feira, 24 de julho de 2013

* Tubarão não é o grande vilão das praias do Recife - PE

Morre turista paulista vítima de ataque de tubarão no Recife

Bruna Gobbi, 18 anos, perdeu muito sangue, não resistiu aos ferimentos e faleceu no Hospital da Restauração

Publicado em 23/07/2013, às 01h27Wagner Sarmento

wsarmento@jc.com.br

Jovem estava a cerca de 20 metros da areia quando foi atacada, na altura da pracinha de Boa Viagem / Foto: Igo Bione/JC Imagem

Jovem estava a cerca de 20 metros da areia quando foi atacada, na altura da pracinha de Boa Viagem

Foto: Igo Bione/JC Imagem

Atualizada às 18h40
Morreu no fim da noite de segunda-feira (22) a adolescente paulista vítima de um ataque de tubarão na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Bruna Silva Gobbi, 18 anos, que passava férias na capital pernambucana com a família, foi atacada pelo animal por volta das 13h, enquanto nadava a cerca de 20 metros da faixa de areia. O banho de mar no cartão-postal da cidade virou tragédia. E voltou a assombrar a população.
Bruna perdeu muito sangue, chegou a sofrer quatro paradas cardiorrespiratória e teve parte da perna esquerda amputada durante uma cirurgia realizada no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. De acordo com informações da assessoria de imprensa da unidade de saúde, a turista não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 23h30, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Antes de ser transferida para o HR, Bruna foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira, na Zona Sul, onde sofreu a primeira parada cardiorrespiratória. Imagens do momento do ataque e do resgate dos bombeiros foram divulgadas pela Secretaria de Defesa Social (SDS). A família teria sido alertada pelo Corpo de Bombeiros para não se banhar na área de risco. A mordida foi sobretudo na coxa esquerda da menina.
            RELEMBRE ESPECIAL DO JC PUBLICADO EM 2012:
                - Tubarão: duas décadas de pesadelo no mar de Pernambuco
                - Quantidade de incidentes pode ser maior, admite Fábio Hazin
                - Família cobra nome de jovem em lista de vítimas
                - Morte de padre após ataque de tubarão em Piedade não é lenda
                - Igrejinha também foi palco de ataque em 1980
                - Vítimas de tubarão carregam marcas para toda a vida
                - À espera da polêmica tela de proteção contra tubarões
                - Pelo direito de surfar ''no quintal de casa''
                - Certidão de óbito comprova morte em ataque de tubarão
                - Estudo revela impacto psicológico em vítimas
                - Relato de vítimas mostra necessidade de tratamento
De acordo com o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), foi o ataque de tubarão de número 59 e a 24ª morte no Estado desde que esse tipo de ocorrência passou a ser contabilizado, em 1992. Do total, 23 ocorreram em Boa Viagem. 

Abaixo, matéria da TV Jornal


SEPULTAMENTO - O corpo da jovem será enterrado no município de Escada, na Zona da Mata Sul pernambucana, onde moram parentes dela. O horário ainda não foi definido porque depende da liberação do Instituto de Medicina Legal (IML), o que só deve ocorrer nesta quarta-feira (24).
O pai de Bruna Gobbi vem de São Paulo para providenciar o sepultamento. A família adiantou que estuda processar o governo do Estado, mas ainda vai consultar um advogado para aprofundar o assunto.
Confira imagens da SDS da hora do ataque e do resgate

MPPE - O promotor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) Ricardo Coelho expediu recomendação formal ao governo do Estado que proíba o banho de mar em trechos mais perigosos para ataque de tubarão nas praias da Região Metropolitana do Recife.
Caso o governo de Pernambuco não acate as recomendações, o promotor disse que está disposto a acionar a Justiça para garantir o cumprimento da determinação.
Ricardo Coelho citou pontos como os que ficam na altura da Igrejinha de Boa Viagem, no edifício Acaiaca, em Boa Viagem, e na frente do Hospital da Aeronáutica, em Piedade.





Tubarão »
MPPE recomenda proibição de banho de mar nas praias da RMR
Promotor Ricardo Coelho recomendou ao Cemit e governo que identifique e proiba a entrada de pessoas na água em trechos perigosos

Raphael Guerra - Diario de Pernambuco
Publicação: 23/07/2013 19:36 Atualização:
O banho de mar nas praias da Região Metropolitana do Recife pode ser proibido. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) encaminhou nesta terça-feira (23) uma recomendação ao Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e ao governo do estado para que seja realizado um estudo de identificação dos trechos das praias mais afetados pelos ataques de tubarão. A partir dele, o objetivo é traçar uma estratégia para impedir, por decreto estadual, que as pessoas entrem na água nesses locais mais perigosos.

“As estatísticas de ataques de tubarão serão levadas em consideração para definir as áreas de interdição para banho. É preciso de que adote providências para evitar novas vítimas. Se o governo do estado não criar o decreto, entrarei com uma ação civil pública para exigir o cumprimento da recomendação”, afirmou o promotor do Meio Ambiente, Ricardo Coelho.

De forma irônica, a presidente do Cemit, Rosângela Lessa, questionou a eficácia da medida proposta. “Quem vai controlar isso? Meia dúzia de bombeiros que nós temos? Não se pode ficar jogando a responsabilidade ao estado. Quem protege a mim, sou eu mesma. O bombeiro falou para moça e mesmo assim não foi atendido. O que ele teria que fazer? Temos que contribuir para o crescimento da pessoa na capacidade de discernir”, disse. 

"O vilão dessa história passa longe de ser o animal. A jovem já se banhava há 40 minutos e com água na cintura. A ameaça, silenciosa, é o que os bombeiros chamam de "vala", um caminho natural aberto entre as ondas por uma corrente com força suficiente para levar sedimentos do solo e arrastar pessoas por até 400 metros."


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Carlos Frederico Martins foi atacado quando surfava em Boa Viagem, em 24 de julho de 1994
Foto: cortesia

Do NE10
Vítima de ataque de tubarão em julho de 1994, na praia de Boa Viagem, no Recife, que resultou na perda do seu pé esquerdo, o turismólogo Carlos Frederico Martins, 34 anos, enviou artigo ao NE10 nesta quarta-feira (23), onde analisa o ataque ocorrido nessa segunda-feira (23) à turista paulista Bruna Gobbi.

"Como vítima, me sinto à vontade para opinar sobre o ocorrido. É preciso investir em campanhas educativas e, principalmente, em estrutura que resultem em um melhor atendimento às vítimas", afirma Carlos Frederico.

Quando foi atacado, Carlos Frederico tinha apenas 15 anos. Na época, o surfe ainda não era proibido em Boa Viagem, e o jovem buscava suas ondas a cerca de 50 metros da praia. Nesta quarta-feira (24), o encontro com o animal que com uma mordida arrancou o seu pé esquerdo completa exatos 19 anos. Para ele, o tubarão também é uma vítima da ação do homem. Confira o seu artigo abaixo:

A busca por um culpado pelos ataques de tubarão no Recife

"Após ler diversos comentários no Facebook e no JC Online, não consegui me conter e decidi escrever algo em relação ao ataque de tubarão ocorrido em 22 de julho de 2013. Sabemos hoje que a praia de Boa Viagem, além de famosa pelas suas belezas, também ficou famosa pelos ataques de tubarão. Desde 1992, foram contabilizados, oficialmente, 59 ataques, sendo 24 deles letais. A nossa estatística é assustadora.

Mas fiquei preocupado com a reação das pessoas em relação ao ocorrido, especialmente em buscar um culpado. De repente não houve um culpado, mas vários. O que falarei aqui é baseado no que li na imprensa, pois, atualmente, não moro mais no Recife.

Foi informado que, no local do ataque, as placas estão bem expostas, sendo três delas em português e inglês. A banhista, segundo relatos na internet, foi informada da situação e perigos do local pelo corpo de bombeiros. Apesar disso, ela, a banhista, que é livre para ir e vir, decidiu se arriscar. Corrijam-me se eu estiver errado quanto a isto. Cruamente fazendo esta leitura, a culpa, neste momento, é da banhista que assumiu o risco, apesar dos avisos. Sei que é uma vida perdida, mas quando decido pular de paraquedas e ele não abre sei dos riscos que estavam envolvidos, apesar de querer que nada de ruim aconteça. Conversando com o pessoal do Instituo Oceanário há alguns anos atrás, eles me disseram que o trabalho de conscientização que é feito por eles na praia é muito difícil. Em um domingão de sol, não é fácil conversar com pessoas que estão alteradas depois de terem bebido o dia inteiro na praia. Eles simplesmente ignoram os avisos e as orientações.

Após o incidente, viu-se claramente que o corpo de bombeiros agiu com rapidez. Em questão de segundos, o jet ski e outros salva-vidas estavam na água para resgatar a moça. Aí vale um comentário aos que criticam os salva-vidas: quero ver quem é “cabra macho” pra entrar na água com um tubarão de mais de dois metros ao seu redor em meio a uma poça de sangue. Neste ponto o corpo de bombeiros agiu de forma brava e rápida, porém, a meu ver, o resgate foi em vão, pois a continuidade do atendimento em terra foi lenta demais, e colocou os esforços por ralo abaixo. Em 1994, quando sofri meu ataque na praia de Boa Viagem, saí da água sozinho com minha prancha e fui resgatado pelos outros colegas que surfavam. Imediatamente eles pararam o trânsito e me colocaram em um carro que, mais adiante, me deixou no posto da polícia, que estava cercado pela multidão que celebrava o aniversário do Sport Clube do Recife na Avenida Boa Viagem.

Seguimos até a restauração e recebi o atendimento adequado. E olha que o tubarão arrancou meu pé esquerdo inteiro em uma mordida. No caso da banhista, temos que perguntar: a UPA estava preparada para este tipo de socorro? Os salva-vidas tinham a estrutura adequada para fazer os primeiros socorros de uma vítima neste estado? Não seria adequado o Samu, ou algum veículo de resgate, estar de prontidão nas proximidades da praia para ser acionado nestes casos?

O outro ponto que me deixa curioso é querer colocar a culpa disso tudo nos tubarões. Logo eles que são as grandes vítimas de tudo o que se fez em nome do “progresso” do estado. É evidente que a construção de Suape e outros impactos ambientais ocorridos em nosso litoral desde 1992 fizeram com que os tubarões se deslocassem de um ponto para outro. Onde antes existiam equilíbrio natural e alimento abundante, hoje existe uma estrutura enorme para receber navios de grande porte. Quer saber do impacto de Suape? Pergunte aos ribeirinhos daquela área o quanto a oferta de peixe diminuiu e afetou a vida econômica deles. Culpar os tubarões por esta situação é estupidez. É querer uma solução imediata para aliviar o ódio irracional. Dizer que um animal que está há milhares de anos habitando os oceanos deve ser exterminado é um absurdo. Não trará as vítimas mortas de volta e nem tornará a praia segura como era há 20 anos.

Em 24 de julho deste ano completarei 19 anos que vivo minha vida usando uma prótese depois de ter sido atacado violentamente por um tubarão na praia de Boa Viagem. Na época, o surf não era proibido e os ataques não eram tão frequentes. Depois de alguns anos de ataques, proibiram o surf e, até, incineraram pranchas como solução e nada adiantou. Na minha humilde opinião, as seguintes providencias deveriam ser tomadas em uma tentativa de minimizar a situação:

» o corpo de bombeiros receber treinamento e estrutura adequadas para cuidar de uma praia como a de Boa Viagem (nos Estados Unidos, eles têm postos de observação com megafones para alertar os banhistas quando eles avistam perigo e, também, veículos que ficam à disposição para resgate);

» dar poder de retirar e até multar os banhistas e surfistas que não seguirem a orientação dos salva-vidas;

» os hotéis orientarem seus hóspedes quanto aos cuidados do banho de mar (sim, e isso não vai espantar os turistas, já foi provado por meio de pesquisas que eles têm mais medo da violência do que dos tubarões);

» os hospitais e UPAs próximos ao litoral se adequarem para receberem vítimas de ataque de tubarão;

» e, finalmente, ser feito um trabalho educacional com a população local, esclarecendo sobre o comportamento dos tubarões, quais espécies temos em nossa praia e como conviver com eles.

Óbvio que algumas das sugestões acima já foram feitas, mas não sei se foi pra valer, e me dá a impressão que foi feito de qualquer jeito, sem levar a sério, apenas para dar uma resposta à imprensa e a população.

Será que esse foi o último ataque? Gostaria de achar que sim, mas creio que a 60º vítima aparecerá cedo ou tarde. O ponto é adiar ao máximo esse acontecimento e, em acontecendo, que estejamos preparados para salvar vidas de fato. Lembre-se que não existe essa de “não acontecerá comigo”. Aposto que todas as vítimas, inclusive eu, pensávamos da mesma forma.

Carlos Frederico Martins - Formado em Turismo, com pós-graduação em Propaganda e Marketing, vítima de ataque de tubarão em 24 de julho de 1994, quando perdeu o pé esquerdo na ocasião."



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