quarta-feira, 7 de agosto de 2013

* Lavouras de milho e soja transgênicos são atacadas por lagartas no RS


Por Marco Aurélio Weissheimer
Do Blog RS Urgente

Qual é mesmo o balanço das últimas décadas no que diz respeito à introdução de organismos geneticamente modificados na agricultura do Rio Grande do Sul? As promessas foram cumpridas? Quais foram os ganhos econômicos e as perdas ambientais? Qual é a situação atual? Essas são algumas das perguntas que serão abordadas no debate “As lavouras transgênicas e o desenvolvimento gaúcho: promessas, resultados e riscos sob a perspectiva do retrocesso ambiental”, que será realizado dia 12 de agosto, às 19 horas, no auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Promovido pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), o encontro terá como debatedores: Leonardo Melgarejo (Engenheiro agrônomo, extensionista rural da Emater/RS – Ascar, atuando no Incra); José Renato Barcelos (Advogado ambientalista, pós-graduado em Direito Ambiental Nacional e Internacional); e Júlio Xandro Heck (Químico Industrial de Alimentos, Pró-reitor de Pesquisa e Inovações do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), em Bento Gonçalves.
Uma lagarta resistente à tecnologia transgênica?
Há um dado novo que vem preocupando agricultores no Rio Grande do Sul. Lavouras de milho com tecnologia Bt (transgênico) e áreas cultivadas com soja foram atacadas severamente por lagartas na safra atual, incluindo a lagarta-do-cartucho que, teoricamente, deveria estar controlada pelo milho transgênico. Pois não está. Uma nota técnica, de abril deste ano, assinada por Gervásio Paulus, diretor técnico da Emater e Superintendente Técnico da Ascar, adverte que alguma coisa está fora da ordem e aponta problemas na aplicação da tecnologia transgênica em lavouras gaúchas.
O milho transgênico Bt, lembra Paulus, leva este nome por que foi desenvolvido a partir da introdução de genes específicos de Bacillus thuringiensis que levam à produção de proteínas tóxicas a determinadas ordens de insetos considerados pragas para a cultura, especificamente uma espécie de lagartas conhecida como lagarta-do-cartucho do milho . No entanto, assinala o diretor técnico da Emater, bastaram apenas duas safras para essa lagarta desenvolver resistência a essa tecnologia.
As empresas produtoras de milho transgênico, assinala ainda Gervásio Paulus, recomendam a implantação de áreas de refúgio em torno das áreas cultivadas com o milho Bt. A função dessas áreas é fazer com que as lagartas contaminadas alimentem-se também de milho convencional e, desta forma, não adquiram resistência ao efeito do transgênico. O problema, explica, é que, na prática, a maioria dos agricultores ignora esta medida, e as lagartas, já no segundo ano de plantio de milho Bt, acabaram adquirindo uma resistência bastante elevada, comprometendo a eficácia de seu controle, e obrigando muitos agricultores a recorrer à aplicação de inseticidas.
E os problemas não param por aí, prossegue a nota:
“A lagarta-do-cartucho, com seu hábito canibal, ajudava a inibir o desenvolvimento de outras espécies de lagartas, como é o caso da lagarta-da-espiga, que até pouco tempo não causava maiores preocupações, mas que na última safra acabou se proliferando em lavouras de milho e migrando para lavouras de soja, ampliando dessa forma o uso de agrotóxicos e os custos de produção para estas culturas”.
Pelo fato de o milho ser uma espécie de polinização aberta, adverte ainda Paulus, há um risco quase inevitável de contaminação de pólen do milho geneticamente modificado com variedades crioulas, comprometendo a já fragilizada biodiversidade de sementes no Estado. Essa seria uma razão, defende, para não incluir o milho transgênico no sistema de troca-troca de sementes do governo do Estado, proposta que acabou sendo aprovada no primeiro semestre deste ano.
A nota técnica do diretor da Emater sugere uma alternativa para o controle da lagarta-do-cartucho do milho: implantar uma campanha massiva de uso de agentes biológicos para o controle da lagarta-do-cartucho do milho. Paulus lembra que já existe tecnologia eficaz para isso, desenvolvida pela Embrapa, viável técnica e economicamente, com a vantagem adicional de ser ambientalmente mais adequada. “O custo dessa tecnologia é relativamente baixo, em torno de R$ 17,00/hectare, mais as despesas de correio para o transporte dos agentes biológicos (no curto prazo, os mesmos viriam de outros estados, principalmente de São Paulo, que possui biofábricas com produção em grande escala, mas esse custo pode ser reduzido se a remessa for em grande quantidade”, assinala. E conclui:
“Atualmente o estado do RS cultiva em torno de 1,1 milhão de hectares de milho, se atingirmos com essa campanha em torno de 5%, isso significa aproximadamente 55.000 hectares, o que representa uma área significativa. Ao mesmo tempo, e talvez mais importante, com isso estaremos estimulando outra visão, um enfoque diferenciado nas formas de enfrentar a questão do controle de pragas no cultivo de lavouras de grãos”.

Fonte: Site do MST

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