sexta-feira, 9 de agosto de 2013

* Papa aprova medidas contra a lavagem de dinheiro no IOR, mas operação é de risco


Tiro ao alvo – O argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, aprovou nesta quinta-feira (8) novas medidas de combate à lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo e à proliferação de armas de destruição em massa, informou o Vaticano.
Por meio de um decreto papal (Motu Proprio), o pontífice reforçou as atribuições da Autoridade de Informação Financeira (AIF), criada em 2010 pelo antecessor e papa emérito Bento XVI, agora com a incumbência de avaliar e aprovar todos os serviços de natureza financeira que tenham origem e destino nas diferentes instituições que integram o organograma do Vaticano.
As leis do Estado do Vaticano estendem-se aos ministérios, organismos e instituições dependentes da Santa Sé e às organizações sem fins lucrativos, como a Caritas, que estão relacionadas à Igreja Católica.
À AIF foi atribuída uma nova função de avaliação e aprovação de todos os organismos que “realizem atividades de natureza financeira, em resposta a uma recomendação da Comissão Moneyval [de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo], do Conselho da Europa”, destaca o comunicado.
O “Motu Proprio” confirma o empenho do novo chefe da Igreja Católica para garantir a transparência do Vaticano, especialmente nos assuntos relacionados ao “Istituto per le Opere di Religione (IOR)”, também conhecido como Banco do Vaticano e palco de um sem fim de escândalos e crimes ao longo das últimas seis décadas.
O decreto papal representa “a continuidade e uma ligeira extensão” em relação ao Motu Proprio, de 30 de dezembro de 2010, do papa Bento XVI, explicou aos jornalistas o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
“É um instrumento que dá [aos parceiros internacionais como a Moneyval] a garantia de que o caminho escolhido vai adiante. No mundo atual, trata-se de resistir a formas, cada vez mais insidiosas, de criminalidade financeira. E nós devemos estar à altura desses desafios para proteção da legalidade, não podemos ficar para trás”, disse o porta-voz.
As medidas juntam-se à criação, em abril, de um grupo de oito cardeais para aconselhar o papa no governo da igreja e estudar um projeto de revisão da Cúria Romana, e à constituição da comissão de investigação, em junho, para reformar o Banco do Vaticano.
Detalhe estranho
Entre as novas medidas adotada pelo pontífice, pelo menos uma chama a atenção. A do combate à proliferação de armas de destruição em massa. Primeiro é preciso saber qual é a definição do Vaticano para armas de destruição em massa. A partir de então será possível definir o foco dessa medida.
A estranheza está no fato de o diretor-geral do Banco do Vaticano, o advogado alemão Ernst von Freyberg, nomeado para o cargo por Bento XVI, ter ligações com um estaleiro especializado em navios de guerra.
Perigo na Praça São Pedro
Como já noticiou o ucho.info, acabar com o crime organizado que atua no intramuros do Vaticano é uma operação tão delicada quanto extirpar um tumor que cresceu na aorta. Caso a cirurgia não seja realizada com precisão de relojoeiro suíço, a morte por hemorragia do paciente é absolutamente certa.
As quadrilhas que há décadas atuam nas coxias da sede da Igreja Católica sempre contaram com a impunidade e a conivência cada vez maior de clérigos que sob a batina escondiam a essência criminosa. Tanto é assim, que Albino Luciani, o papa João Paulo I, foi assassinado após 33 dias de papado porque decidiu promover uma profunda faxina no Vaticano, começando pelo IOR.
Seu sucessor, o polonês Karol Józef Wojtyła, papa João Paulo II, foi alvo de um atentado, na Praça São Pedro, operado por Mehmet Ali Agca, braço avançado da máfia Urca na Itália. Os religiosos que integravam o staff de Wojtyla sabiam do perigo que representava a exposição do papa ente a multidão, mas agiram em conluio com os criminosos.
O alemão Joseph Ratzinger, papa Bento XVI, sucessor de Wojtyla, renunciou ao comando da Igreja Católica porque com o passar do tempo percebeu o risco que corria ao tentar eliminar os bandidos da Santa Sé.
Jorge Bergoglio não está livre de se tornar alvo desses criminosos profissionais que há mais de meio século frequentam as entranhas do Vaticano. Nesse período, o IOR funcionou como uma quase insuspeita usina de branqueamento de capitais, operada por um grupo de bandidos de todos os naipes que cooptaram religiosos com aptidão para o crime.

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