sexta-feira, 14 de março de 2014

* Rio Madeira enfurecido

13.03.2014

Madeira sem compaixão

POR CAROL NUNES # EM DA REDAÇÃO
COMPARTILHE:
  • Facebook
  •  
  • Twitthis
  •  
  • del.icio.us
  •  
  • FriendFeed
  •  
  • Google Bookmarks
Cheia histórica no rio Madeira é mais uma das cicatrizes deixadas na região das usinas de Jirau e Santo Antônio
(Imagem: Greenpeace Brasil)
(Imagem: Greenpeace Brasil)
Desde o fim de fevereiro, as imagens da enchente histórica no rio Madeira têm impressionado os brasileiros. Devido à elevação recorde do nível do rio (chegou a 19 metros ontem), Porto Velho se encontra em estado de calamidade pública. O bairro do Triângulo – à beira do rio e o mais próximo da usina de Santo Antônio – está submerso e sem previsão de retorno à normalidade. Por causa dos transtornos, famílias inteiras estão desalojadas e a cidade encontra-se cada vez mais isolada.
A ONG Greenpeace vem registrando os percalços da população ribeirinha, bem representada no vídeo abaixo. As enchentes sazonais são comuns entre março e maio, mas vieram antes da hora e numa proporção arrebatadora. Entretanto, alguns moradores associam a cheia histórica à instalação das usinas Santo Antônio e Jirau no rio Madeira. Floriza dos Santos de Sá, 62, moradora do Triângulo há mais de 40 anos, relatou à equipe do Greenpeace: “Antes de a usina vir pra cá, o rio enchia e alagava um pouco embaixo das casas, mas depois ele ia baixando e a água ia embora. Agora, a gente não sabe se ele vai secar como antigamente ou se ele não vai secar mais”.

A associação causal entre as hidrelétricas e as enchentes é controversa. Por um lado, as empresas que gerem as usinas e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que monitora a vazão do rio, alegam não haver relação. Segundo Thales Sampaio, diretor do CPRM, a causa das cheias é o excesso de chuvas na Bolívia, onde nasce o rio, ao pé dos Andes. Havendo relação ou não, as usinas já desligaram as turbinas para dar maior vazão à água.
Por outro lado, uma série especial da Agência Pública reportou um aumento de ocorrência dos “banzeiros”, ondas que atingem as margens do rio e provocam erosão e chegaram a levar até um obelisco instalado na orla do Madeira. Segundo o biólogo e professor aposentado da USP José Galizia Tundisi alertou em estudos, a instalação de barragens desequilibrou a movimentação de sedimentos ao longo do rio, criando novas zonas de erosão onde havia depósitos sedimentares, caso de Porto Velho.
Conforme esclarecido neste artigo, o rio Madeira é conhecido por ser caudaloso – seu próprio nome vem da quantidade de troncos de árvores arrancados pelas águas na descida da Cordilheira dos Andes. Como bem descreve Eduardo Góes, “a vazão de água e sedimento é muito maior que a capacidade do rio em transportá-lo”, o que põe em xeque inclusive a vida útil das usinas, que estão sujeitas ao assoreamento do Madeira.
Para os ribeirinhos que lidam com a mortandade de peixes e erosões cada vez mais constantes (vide vídeo abaixo), a enchente histórica pode não ser tão surpreendente assim. A novidade, de fato, fica para a decisão de quem arcará com as consequências que as mudanças do rio Madeira impuseram ao seu modo de vida. A Justiça Federal e o MPF já atribuíram responsabilidades as empresas gestoras das usinas.

- See more at: http://www.pagina22.com.br/index.php/2014/03/madeira-sem-compaixao/#sthash.B2pRDFYq.dpuf


Nenhum comentário:

Postar um comentário