Essa foto rompe o tempo, rompe a ideia de lugar, rompe, pra mim, até a falsa noção que temos de que uma Foto é um registro imagético de 1 momento. Não consigo enxergar isso nela... enxergar um Ano X, um Dia X, um Momento X, um Homem no chão, um Policial e uma Mulher brigando.
Não. Só vejo Síntese. Síntese de tudo que aprendi, li e sei sobre este país. Tem ai... Navio negreiros, quilombos e o Carandiru. Vejo ai... Portugal, Jesuítas e Mulheres sem direito a voto. Tem hora que vejo uma mulher lutando contra um estupro. Me distraio um instante, e penso sobre as mães que perderam seus filhos pros regimes de Vargas e dos Fardados.
Pisco, e de repente: Canudos! Olho pra arma deste policial e vejo uma moto-serra impiedosa varrendo a amazônia... e índios e ambientalistas sucumbindo em defesa da mata. Fujo meu olhar pro homem no chão e vejo nele 100 sem-terras mortos em Eldorados dos Carajás, e no instante que pensava isso refletir, em 1 segundo, se as pessoas lembravam disso... de Eldorado, e cocei o queixo.
Foi o bastante pra ver o Índio Galdino, em chamas, quando voltei o olhar pro mesmo homem no chão. E a arma, antes uma moto-serra, virou um tubo cheio de gasolina. Vejo, vejo, vejo e a sequencia segue trágica, como é nossa historia, como é a foto.
O Estado ta ali... escondido, no canto da foto, impessoal, sem cara, pastorando e na cobertura de seu braço armado. A Arte de rua, irônica, marginal, pixada, risca tudo, como que querendo transcrever a desordem que observa.
Deus ta no meio também, sempre tá. Ta ali, com sua representante "gorda e medrosa" (como é a igreja diante da tragedia humana) estendendo sua mão de compaixão quase inútil, mas ta ali.
A imagem congela um choque, um confronto histórico, complexo... não só de pretos versus brancos, de ricos versus pobres, de homens versus mulheres, e de um estado burgues versus a dignidade humana.
Mais que isso. As tantas subdivisões, escalas e composições em confronto no mundo real, vivido, talvez encontre sua síntese no peso e na força que estes ombros largos suportam e lançam sobre seu algoz.
Daria uma bela capa pro livro "A Verdadeira, Cruel e Barbara, Historia do Brasil".
Marcelo Castro.
(Foto de uma greve na Fiocruz)
Não. Só vejo Síntese. Síntese de tudo que aprendi, li e sei sobre este país. Tem ai... Navio negreiros, quilombos e o Carandiru. Vejo ai... Portugal, Jesuítas e Mulheres sem direito a voto. Tem hora que vejo uma mulher lutando contra um estupro. Me distraio um instante, e penso sobre as mães que perderam seus filhos pros regimes de Vargas e dos Fardados.
Pisco, e de repente: Canudos! Olho pra arma deste policial e vejo uma moto-serra impiedosa varrendo a amazônia... e índios e ambientalistas sucumbindo em defesa da mata. Fujo meu olhar pro homem no chão e vejo nele 100 sem-terras mortos em Eldorados dos Carajás, e no instante que pensava isso refletir, em 1 segundo, se as pessoas lembravam disso... de Eldorado, e cocei o queixo.
Foi o bastante pra ver o Índio Galdino, em chamas, quando voltei o olhar pro mesmo homem no chão. E a arma, antes uma moto-serra, virou um tubo cheio de gasolina. Vejo, vejo, vejo e a sequencia segue trágica, como é nossa historia, como é a foto.
O Estado ta ali... escondido, no canto da foto, impessoal, sem cara, pastorando e na cobertura de seu braço armado. A Arte de rua, irônica, marginal, pixada, risca tudo, como que querendo transcrever a desordem que observa.
Deus ta no meio também, sempre tá. Ta ali, com sua representante "gorda e medrosa" (como é a igreja diante da tragedia humana) estendendo sua mão de compaixão quase inútil, mas ta ali.
A imagem congela um choque, um confronto histórico, complexo... não só de pretos versus brancos, de ricos versus pobres, de homens versus mulheres, e de um estado burgues versus a dignidade humana.
Mais que isso. As tantas subdivisões, escalas e composições em confronto no mundo real, vivido, talvez encontre sua síntese no peso e na força que estes ombros largos suportam e lançam sobre seu algoz.
Daria uma bela capa pro livro "A Verdadeira, Cruel e Barbara, Historia do Brasil".
Marcelo Castro.
(Foto de uma greve na Fiocruz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário