sábado, 7 de fevereiro de 2009

* No Ceará, papel de carnaúba!

A comunidade de Palmeira, a 27 quilômetros de Beberibe, deve mudar seu perfil social e econômico a partir do próprio nome. A carnaúba, no local, está em quintais, vias e na agricultura familiar.
A mudança deve surgir porque, na região, seu aproveitamento não se restringe mais à retirada da cera, da madeira e da folhagem para confecção de chapéus, bolsas e vassouras. Palmeira e outras localidades socialmente vulneráveis de Beberibe estão aprendendo a transformar as sobras em renda.
As sobras de palha, que antes viravam adubo ou ração, agora são recicladas e transformadas em papel. Após trabalhado, o material é utilizado como matéria-prima de blocos de anotação, luminárias, cadernos, cartões e tudo o mais que a imaginação permitir. Os cursos fazem parte de projeto de inclusão produtiva voltado para 400 famílias.
Os recursos provêm do Programa de Atenção Integral à Família (Paif), com contrapartida do Município. Em 2007, foram investidos R$ 96.919,67, através do Centro de Referência da Assistência Social de Beberibe (Cras).
Os cursos de capacitação começaram em julho e seguiram até dezembro e abordaram desde a produção de galinha caipira, passando pelo cultivo de hortaliças, serigrafia, farmácia viva, plantas ornamentais, artesanato pet e de palha de carnaúba, treinamento de merendeiras, processamento de pescado e de fruto.
Tudo é parte de uma parceria inédita entre Prefeitura, Centro de Ensino Tecnológico (Centec), Centro Vocacional Tecnológico (CVT) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Como explica o pedagogo e coordenador de Inclusão Produtiva da Secretaria de Ação Social de Beberibe, Jean Barros, o Cras mobiliza as comunidades e faz acompanhamento com pedagogo, psicólogo e assistente social. Já o Centec capacita as famílias, e o Sebrae paga os instrutores e ministra aulas sobre associativismo e cooperativismo. Enquanto isso, os parceiros se articulam para escoar a mercadoria em centrais de artesanato.
O ineditismo está no fato de a Prefeitura e o Centec fazerem contrato de concessão de material enquanto o grupo estiver funcionando. No caso da reciclagem da folha de carnaúba, o Município cede forrageira, fogão industrial, liqüidificador e caixa d´água; e o Centec, bacias, panelas, colheres, telas, avental e material descartável.
A idéia é que, à medida que o grupo se torna independente, adquira o material descartável a partir da venda de produtos. “Os participantes estão tendo toda assistência, da confecção das peças à logística. Eles só não continuam o trabalho se não quiserem”, ressalta a coordenadora do CVT de Beberibe, Virgínia Tavares.
Hoje 160 famílias são beneficiadas com cursos, em oito turmas. No caso dos treinamentos com palha de carnaúba, as próximas comunidades que receberão aulas são Arataca e Andreza.


RENDIMENTO MAIOR
Secador solar deve otimizar trabalho nas comunidades
A reciclagem da palha da carnaúba ganhou mais incremento, quando duas comunidades de Beberibe receberam dois secadores solares para otimizar o processo. Um em Palmeira e o outro, em Andreza. Com os equipamentos, o trabalho ganhou em limpeza, rapidez e aproveitamento.
Segundo Virgínia Tavares, coordenadora do CVT do Município, os secadores atenderão a várias demandas, não só às das famílias envolvidas nos cursos. É que a preocupação dos fazendeiros é liberar a palha e perder o pó e, conseqüentemente, a cera. Como os secadores são móveis, poderão ir às fazendas, extrair o pó e deixá-lo com o produtor. Assim, só as palhas vão para os artesãos. Além disso, tanto as folhas como o pó serão mais limpos, porque não vão mais se misturar à areia, como acontecia com a secagem no chão. Uma máquina seca 10 mil palhas por dia. E o rendimento é maior: ao sol a palha seca em 15 dias e no secador, em só um. Cada secador custa R$ 31 mil.


Semelhanças
A folha passa por dez etapas até virar papel. Segundo a tecnóloga de alimentos e instrutora do Centec, Mária Leite, o processo é semelhante ao usado para transformação em papel da palha do milho, do bagaço da cana-de-açúcar, da folha da bananeira e do que ainda não é feito no Ceará, com a coroa do abacaxi. Segundo Márcia Leite, há grupos no Ceará que já ganham dinheiro com o trabalho e estão inovando a produção. Isso porque a palha trançada não tem valor comercial suficiente para sustentar as famílias. Enquanto os artesãos vendem o chapéu a R$ 0,20 ou R$ 0,30, nas lojas não sai por menos de R$ 1,50.
“Estão valorizando mais a planta e evitando desmatar porque a renda com o papel é melhor”, explica. O abajur é vendido por R$ 35,00. “A comunidade aqui é muito criativa. A arte pode ser misturada com labirinto, trançado”.


Fonte: Diário do Nordeste

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