PSTU foi primeiro partido a criticar Black Blocs abertamente. Para legenda, grupo provoca a repressão policial e é responsável por acabar com diversas passeatas
Black Blocs: eles se identificam como anarquistas e autonomos, e “levantam a bola” para a repressão e o fascismo
Via O Estado de S. Paulo
“A verdadeira revolução é a ação das massas, não a de pequenos grupos.” A afirmação é de um documento do PSTU, primeiro partido a criticar abertamente a ação dos Black Blocs. Conforme o documento, “nas grandes mobilizações, houve momentos em que milhares de pessoas se defenderam como puderam dos ataques violentos da polícia. Naturalmente, acreditamos que essas atitudes foram totalmente legítimas”.
“Os Black Blocs, porém, têm uma ação distinta. Entram nas passeatas e, sem que tenha havido nenhuma deliberação por parte dos manifestantes ou dos grupos que organizaram o protesto, atacam de forma provocativa a polícia, que reage, sistematicamente, reprimindo e acabando com as mobilizações. Agem como provocadores da repressão policial, tendo sido responsáveis, muitas vezes, por acabar com várias passeatas.”
Black Blocs já se articulam em 23 Estados do País
Bruno Paes Manso - O Estado de S. Paulo
No Maranhão, os integrantes da página dos Black Blocs no Facebook contam a história da Balaiada, movimento popular rebelde formado por "escravos aquilombados e caboclos" que tomou a segunda maior cidade do Maranhão no século 19. Os de São José dos Campos colocaram na internet a imagem da "mãozinha do curtir" segurando um coquetel molotov.
Daniel Teixeira/AE
Confronto entre manifestantes e PM em ato em São Paulo
Já os goianos, assim como os demais, se dizem anarquistas e afirmam que "sua "pátria é o mundo inteiro" e "sua lei é a liberdade". No Pará, a bandeira brasileira está pintada de preto e vermelho, com o "A na bola", símbolo do anarquismo, no lugar do Ordem e Progresso.
Quase dois meses depois do começo dos protestos do Movimento Passe Livre (MPL), discussões virtuais e presenciais sobre o uso da violência como estratégia política nas manifestações de rua já são feitas em 23 Estados. Por enquanto, só Amapá, Tocantins, Sergipe e Acre ainda não têm fóruns de internet dos Black Blocs.
A página mais popular dos Black Blocs no Facebook é a do Rio, com mais de 18 mil seguidores. Em São Paulo, além da capital e de São José dos Campos, outras cinco cidades têm fóruns de discussão anarquistas (Ribeirão Preto, Rio Preto, Rio Claro, Piracicaba e Sertãozinho). Os cearenses fizeram o documentário "Com Vandalismo", sobre as ações do grupo na Copa das Confederações, com mais de 50 mil acessos no YouTube.
No 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, eles pretendem promover um "badernaço" nacional. A articulação vem sendo feita na página do Black Bloc Brasil, com quase 40 mil seguidores. "Muitos dos jovens que estão usando essa estratégia da violência nas manifestações vieram das periferias brasileiras. Eles já são vítimas da violência cotidiana por parte do Estado e por isso os protestos violentos passam a fazer sentido para eles", afirma o professor Rafael Alcadipani Silveira, coordenador de pesquisas organizacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Silveira tem acompanhado as discussões virtuais dos anarquistas e esteve nos últimos dois protestos.
História. Inspirada inicialmente em ativistas alemães, que atuavam de preto e com máscaras de gás como segurança nas manifestações nos anos 1990, a estética e ação Black Bloc se fortaleceu principalmente depois de ganhar os Estados Unidos, onde o pacifismo era discurso hegemônico graças às vitórias nas lutas pelos direitos civis, lideradas por Martin Luther King Júnior, e às passeatas hippies contra a Guerra do Vietnã, sob o lema "faça amor, não faça guerra".
Atos de depredação em Seattle, em 1999, que impediram diversos delegados de chegarem à reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), conseguiram provocar o debate sobre o papel da violência nas manifestações. Uma das referências do debate foi o livro Como a não-violência protege o Estado, do ativista americano Peter Gelderloos, que já passou duas temporadas em prisões americanas e espanholas.
Esses manifestantes passaram a argumentar que depredação não é violência, mas uma intervenção simbólica que atinge o cerne do capitalismo: a proteção à propriedade. De acordo com essa filosofia, seriam atos violentos somente as ações que ferem os indivíduos.
"Depois de Seattle, os movimentos sociais passaram a aceitar a violência como uma das estratégias políticas e a debater abertamente a questão", explica o filósofo Pablo Ortellado, coautor do livro Estamos Vencendo! (Conrad), sobre os movimentos autonomistas no Brasil. Além da estratégia dos Black Blocs, há nos movimentos globais as ações lúdicas e festivas (chamadas de Pink Blocs), estratégias no Brasil representadas pelas Paradas Gays, Marchas da Maconha e das Vadias, e as pacifistas (White Blocs).
"Não se pode dizer que alguém é do grupo Black Bloc, já que se trata de uma estratégia de ação. Ainda que seja adepta da violência nas manifestações, a pessoa pode variar suas atitude conforme a situação. As ações nas ruas podem ser de resistência e pacifistas, conforme a necessidade. O integrante de um coletivo, por exemplo, pode usar essas diferentes formas de ação de acordo com o protesto", explica um integrante do coletivo Desentorpecendo a razão, que pediu para não se identificar. "Não há repressão na Parada Gay, por exemplo. Por isso, nunca haverá Black Blocs nesse evento."
Na atual fase brasileira, onde o Estado está em descrédito, a moda da violência e da anarquia acabou pegando mais do que as outras, contagiando rapidamente a nova geração de jovens. Ortellado acredita que é só uma fase, já vivida pela Argentina e pela Espanha em épocas de crise política. "São momentos de indignação", diz. A violência, no entanto, costuma escurecer qualquer bola de cristal.
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